Rede Globo: 60 anos de comunicação que valoriza nossas raízes
- Paulo de Oxalá
- há 10 horas
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Foto: TV Globo, 60 anos de diversidade e fé – arte Pai Paulo de Oxalá
Emissora é a que mais divulga as religiões de matriz africana
Inaugurada no dia 26 de abril de 1965, a TV Globo está completando 60 anos e carrega, em sua história, um legado que vai muito além do entretenimento: tem sido um importante canal na valorização, visibilidade e defesa das religiões de matriz africana no Brasil. Em meio a tantas produções e coberturas jornalísticas, a emissora é também um grande portal de divulgação e respeito à diversidade e à ancestralidade do povo negro brasileiro.
Desde o marco histórico da cobertura da morte de Joãozinho da Goméia, em 1971, passando por documentários como O Poder do Machado de Xangô (1976), Arte Sacra Negra (1979), até a série O Sagrado (2009), que promoveu o diálogo inter-religioso, a Globo tem sido uma ponte entre o terreiro e o telespectador. Foi a primeira emissora a dar visibilidade, em rede nacional, ao combate à intolerância religiosa, inclusive apoiando com vinheta oficial a 1ª Caminhada Contra a Intolerância Religiosa, em 2008.
Mas é nas novelas e minisséries — uma verdadeira paixão nacional — que a Globo levou, com força total, os saberes, os ritos e os Orixás ao coração das famílias brasileiras. Quem não se lembra de Tenda dos Milagres (1985), baseada na obra de Jorge Amado, onde o Candomblé é pano de fundo da luta por dignidade e liberdade em Salvador? Ou de Porto dos Milagres (2001), também inspirada em Jorge Amado, que reverencia Yemanjá com a força das águas e da maternidade ancestral?
Em O Pagador de Promessas (1988), o sincretismo religioso se materializa na fé de Zé do Burro, que faz uma promessa a Yansã e enfrenta a intolerância de um padre para cumprir seu compromisso. Já em Lado a Lado (2012), a figura de Tia Jurema, interpretada por Zezé Barbosa, traz para o horário das seis a força das mães de santo como líderes espirituais e conselheiras.
A Globo também mostrou a espiritualidade como parte da identidade cultural em O Canto da Sereia (2013), minissérie que envolve o universo do Axé e do Candomblé em uma trama policial, e em Segundo Sol (2018), onde a personagem de Giovanna Antonelli se reconecta com sua ancestralidade baiana.
Outras novelas como O Rei do Gado, Velho Chico, Amor de Mãe, Vai na Fé e Renascer também trouxeram referências e personagens que orbitam o universo afro-brasileiro com respeito, música, simbologia e espiritualidade. Sem falar em Força de um Desejo e Sinhá Moça, que denunciaram o racismo estrutural e exaltaram a luta de libertação do nosso povo.
A Rede Globo também reforça o protagonismo negro e religioso em suas afiliadas, como a Rede Bahia, que dá destaque, todos os anos, à Lavagem do Bonfim, à Festa de Yemanjá e aos terreiros da capital e do interior. O axé se faz presente nos links ao vivo, nos bastidores, na trilha sonora e no olhar atento de tantos profissionais negros que constroem essa narrativa de dentro para fora.
Celebrar os 60 anos da TV Globo é também reconhecer sua atuação, em muitos momentos, como uma importante defensora na construção de um Brasil mais justo, plural e respeitoso. Ao dar visibilidade às denúncias de intolerância e racismo religioso, o canal reafirma seu compromisso com a verdade, a equidade e o respeito à diversidade. Nossos Orixás, nossos ancestrais e nossas histórias de luta e fé sempre foram retratados na tela com sensibilidade, beleza e dignidade.
Por isso, parabéns, Rede Globo! Que seus próximos anos continuem sendo de respeito às diferenças, de combate à intolerância, ao racismo e de reverência às raízes que sustentam o povo brasileiro.
Axé, Globo!
Axé para todos!
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