Que o Papa Leão XIV inclua os povos de terreiro no diálogo pela paz
- Paulo de Oxalá
- há 1 dia
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Foto: Gravura do Papa Leão XIV e líderes religiosos – IA com matizes de Pai Paulo de Oxalá
Religiões de matriz africana e a liberdade religiosa
O mundo assistiu, neste último domingo, 18 de maio, a um momento histórico. Na celebração de início de seu pontificado, o Papa Leão XIV lançou um apelo urgente e necessário: a construção de pontes, o diálogo inter-religioso e o compromisso com a paz. Palavras que ecoam não apenas nos corações dos católicos, mas também de milhões de fiéis de outras tradições espirituais, como é o caso das religiões de matriz africana espalhadas por todo o mundo.
“Juntos, como um só povo, todos como irmãos, caminhemos ao encontro de Deus e amemo-nos uns aos outros”, declarou o Papa. Uma mensagem que, de forma surpreendente e potente, se alinha profundamente aos princípios da fé afrodescendente. Oxalá — Orixá maior, senhor da paz, da concórdia e da harmonia — também ensina que o caminho da evolução passa pela calma, pelo respeito às diferenças e pelo equilíbrio entre os povos.
Ao se encontrar com representantes de diversas religiões — desde muçulmanos, judeus, budistas, hinduístas até sikhs —, o Papa demonstrou que seu ministério será construído sobre os alicerces do diálogo. Contudo, é preciso destacar: que essa escuta se estenda, de forma verdadeira, às religiões de matriz africana. Que o Papa Leão XIV, em seu compromisso pela paz, compreenda também a importância dos terreiros, dos ilés, dos barracões, das roças e das casas de culto afro em todo o mundo.
As religiões de matriz africana são guardiãs de uma espiritualidade milenar, de saberes ancestrais e de uma profunda ligação com a natureza e com o sagrado. Somos herdeiros de tradições que, apesar de séculos de perseguição, seguem firmes, levando conforto, cura e orientação espiritual para milhões de pessoas.
O mundo precisa da paz de Oxalá. Precisa da calma que vem do manto branco afro-sagrado, da reflexão que nasce na meditação silenciosa do Orixá que moldou os corpos e soprou o axé da vida. E que essa mesma paz caminhe lado a lado com o amor pregado por Cristo.
Se, como afirmou o cardeal George Koovakad, “o tempo presente é de diálogo e de construção de pontes”, então que essas pontes sejam erguidas também até os povos de terreiro. Que os tambores sejam ouvidos, que os cânticos em yorùbá, jeje e bantu sejam respeitados, e que nossos altares — com búzios, folhas, água e pedra — sejam reconhecidos como espaços legítimos de espiritualidade, amor e fé.
Neste encontro de gigantes, onde a paz é o caminho, esperamos que o Papa Leão XIV não apenas caminhe, mas estenda as mãos, ouça as vozes dos ancestrais e compreenda que a verdadeira unidade nasce do respeito às diferenças. O mundo não será novo se não for inclusivo.
Que o axé de Oxalá, o amor de Cristo e a força dos ancestrais conduzam este pontificado. E que, enfim, a paz se torne mais que um discurso: se torne prática, se torne vida.
Ìjíròrò àwọn ẹ̀sìn ń ru àlàáfíà ayé! (O diálogo religioso motiva a paz no mundo!)
Axé para todos!
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