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Por que Dan, a Serpente, é um Símbolo Sagrado?

  • Foto do escritor: Paulo de Oxalá
    Paulo de Oxalá
  • 8 de mai.
  • 3 min de leitura

Foto: Todos veneram Dan – IA com matizes de Pai Paulo de Oxalá



No Brasil, Gbèsèn, é o Vòdún patrono do Candomblé Jeje

 

 

O Candomblé Jeje, uma das principais vertentes das religiões afro-brasileiras, tem origem no antigo Reino do Dahomé — localizado onde hoje é o Benim, na África Ocidental. Essa tradição cultua os Voduns, divindades ancestrais do povo ewé, que representam forças da natureza, da ética e do destino humano. Entre todos os símbolos presentes nesse universo espiritual, a serpente se destaca como figura central e sagrada. Mas por que ela ocupa esse lugar de protagonismo no culto Jeje?

 

A Serpente Cósmica: Dan


No pensamento cosmogônico do povo ewé, Dan, também chamada de Đangbé ou AíɗǎɲꞪwɛ́ɗó, é a serpente primordial criada por Mawu, a divindade suprema. Ela é responsável por manter o equilíbrio entre o céu e a Terra. Ao contrário da interpretação negativa que a serpente carrega em tradições ocidentais, no Dahomé ela simboliza sabedoria, proteção, continuidade e renovação.

 

Dan é frequentemente representada como uma serpente que circunda o mundo com a cabeça no céu e o corpo sustentando a Terra — uma imagem que traduz a função dos próprios Voduns: manter a ordem cósmica. Por isso, todos os Voduns estão conectados à energia de Dan. Não como serpentes literais, mas como manifestações do àṣẹ, a força vital que emana da serpente primordial.

 

Gbèsèn: O Senhor da Nação Jeje

 

No Brasil, essa força se manifesta de forma especial por meio de Gbèsèn, também conhecido como Đangbé. Ele é o Ʋòɖʊ́ɲ patrono da Nação Jeje, e sua representação é uma cobra que engole a própria cauda — um símbolo de eternidade, movimento e renovação constante. Um dos seus emblemas mais reconhecidos é o arco-íris, que representa a ligação entre os planos divino e terreno.

 

Gbèsèn é o filho direto de AíɗǎɲꞪwɛ́ɗó, herdeiro da força que impulsiona o planeta e move a criação. Sua árvore sagrada é a palmeira, símbolo de estabilidade e longevidade. Ele é cultuado especialmente nos meses de janeiro e agosto, quando os terreiros Jeje realizam festas e oferendas em sua homenagem.

 

Sua saudação tradicional ecoa como uma reverência ancestral:

Míkpá Aɦò Bòbòy Ʋòɖʊ́ɲ Gbèsèn! — Salve o grande Senhor das Águas Supremas!

 

Um Símbolo Vivo na Estética e Liturgia

 

A presença da serpente vai além da mitologia: ela molda a própria estética e ritualística Jeje. Fios de contas, esculturas, insígnias, tambores e roupas carregam formas serpentinas. Em muitas casas Jeje, sobretudo das linhagens Mahin e Savalu, é possível ver serpentes desenhadas nas paredes dos barracões ou nas representações de Voduns como Ƙhèviósó (Hevioso-trovão), Sakpàtá (terra) e Ànàbíkò (Nàná Burúkú – a mãe ancestral).

 

Nos rituais, o movimento sinuoso da serpente inspira as danças e os traçados dos vevês — símbolos ritualísticos feitos no chão com pós coloridos ou farinha branca. A figura da serpente, portanto, é também liturgia viva, ensinando através do corpo, da arte e do movimento.

 

Da África ao Brasil: Permanência e Transformação

 

Com a diáspora forçada, o culto Jeje chegou ao Brasil, especialmente à Bahia e ao Maranhão. Apesar da adaptação ao novo contexto, a simbologia da serpente foi mantida, especialmente nos terreiros que preservam os vínculos com o Dahomé. Nos ritos de iniciação, por exemplo, a serpente representa o renascimento do iniciado — que, tal como ela, troca de pele para se tornar um novo ser, em sintonia com o sagrado.

 

Um Código Espiritual de Ancestralidade


A serpente não é apenas um símbolo decorativo: ela é um código espiritual profundo. Representa a conexão entre o visível e o invisível, o céu e a terra, o ancestral e o futuro. No mundo Jeje, a serpente não rasteja: ela sustenta o mundo com sua força e sabedoria.

 

 

Uma Tradição que Respira

 

A simbologia da serpente no Candomblé Jeje é, acima de tudo, uma lembrança viva de que os ensinamentos ancestrais continuam a pulsar na vida dos iniciados. Ela nos convida a refletir sobre o equilíbrio, a flexibilidade e a renovação como princípios divinos que regem o cosmos e a existência.

 

O discernimento dos ancestrais foi não apenas simbólico, mas profundamente espiritual e filosófico ao eleger a grande serpente como ícone sagrado. Como revela o próprio nome da divindade Ɗangbé — “a serpente da vida” —, essa imagem ancestral permanece viva, respirando em cada gesto, canto e rito da Nação Jeje.

 

Míkpá Aɦò Bòbòy Ʋòɖʊ́ɲ Gbèsèn!


Meu kolofé para todos.

 
 
 

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Tags: Babalorixá, Simpatia, Búzios, Tarot e numerologia

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