Assim como na novela Vale Tudo!… Vale tudo para ser feliz?
- Paulo de Oxalá
- 27 de mai.
- 3 min de leitura

Foto: Key visual de Vale Tudo - composição artística dos búzios por Pai Paulo de Oxalá
Orixá pode indicar o caminho, mas a escolha é sua
A novela Vale Tudo chama atenção porque seus vilões não são monstros caricatos. São pessoas comuns, reais, que disfarçam sua vilania de bom senso. Gente que diz querer salvar o mundo, mas não quer nem levantar da cadeira para trabalhar. Vilania de quem sorri, mas julga. De quem estende a mão, mas espera algo em troca.
No Candomblé, sabemos que todo Odù — energia vinculada ao destino — tem seu lado positivo e seu lado desafiador. E muitos, sem perceber, carregam um pouco de Odete Roitman, que tenta impedir a reconciliação de Raquel e Ivan, manipulando Maria de Fátima em seus planos. Ou até um pouco da própria Maria de Fátima, que busca riqueza e sucesso a qualquer custo. E quem nunca cruzou com um Afonso Roitman, aquele que não quer trabalhar, mas vive de um falso moralismo, dizendo querer salvar o mundo?
É aí que surge a pergunta que incomoda, que martela na cabeça: até onde carregamos uma certa maldade? E até onde uma pessoa considerada má também carrega sua dose de bondade?
Se olharmos pela ótica do Candomblé, o mundo não é feito de bem e mal absolutos. Orixá não é juiz de moral. Não distribui carimbo de “bonzinho” ou “vilão”. A vida é movimento, equilíbrio, escolhas. O que pesa é o caminho que você escolhe trilhar.
No jogo dos Odù, cada pessoa carrega dentro de si forças que são luz e sombra. Como disse: todo Odù tem seu lado construtivo e seu lado desafiador. Aquela energia que te faz generoso também pode te fazer mesquinho, se você não souber se equilibrar. Aquela que te dá ambição para crescer também pode te empurrar para a ganância, se você se perde no caminho.
Afinal, ser ambicioso te torna uma pessoa má? Ou é o que você faz com essa ambição que define quem você é? A fronteira entre o bem e o mal é muito mais tênue do que parece — e, muitas vezes, é construída pela lente da sociedade, da cultura e, sim, da religiosidade.
No terreiro, a gente aprende uma lição muito clara: ebó não muda caráter. Caráter é aquilo que cada um traz dentro de si, fruto da educação, da consciência e das escolhas pessoais. Mas o ebó é, sim, uma ferramenta poderosa. É medicina espiritual capaz de abrir caminhos, de acalmar, de proteger, de trazer clareza e equilíbrio para quem busca viver melhor.
É aí que entra a atuação do jogo de búzios, que orienta, alerta e direciona. Ele é uma bússola sagrada, capaz de revelar os desafios, as possibilidades e as melhores escolhas para quem deseja, de fato, transformar sua vida.
Porque é preciso dizer com toda firmeza: Orixá não obriga ninguém a nada. Ele aponta, aconselha, mostra o melhor caminho, mas quem escolhe e quem anda é você. O ebó fortalece, limpa, organiza a energia, mas a transformação real vem da sua decisão de fazer diferente, de viver de forma mais alinhada com seu próprio destino.
E, no fim das contas, essa reflexão volta para nós como um espelho — assim como na novela:
Afinal... vale tudo para vencer? Vale tudo para ser feliz? Ou será que vale mais fazer as escolhas certas, caminhar com dignidade e viver de acordo com seu próprio destino?
Kí ìkí mímọ́ lè máa tọ́ wa sójú ònà rere!
(Que o sagrado continue nos guiando pelo caminho certo!)
Axé para todos!
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