O amor de Ney Matogrosso pelos animais e as bênçãos de São Francisco
- Paulo de Oxalá
- há 1 dia
- 3 min de leitura

Foto: Ney com animais – arquivo pessoal de Ney Matogrosso
Cantor faz hoje 84 anos e ajudou na lei que defende os animais
Com uma voz única e uma sensibilidade sublime, Ney, que sempre amou os animais, deu vida à canção “São Francisco”, dedicada ao santo que pregou o amor à natureza, aos bichos e à paz entre os seres. Ao ouvi-la, é como se o próprio Francisco surgisse em cena, envolto de luz e afeto, cercado por criaturas livres e silenciosas que dizem tudo. Neste dia em que completa 84 anos, Ney nos presenteia com uma trajetória feita de ternura, resistência e compromisso com os seres da Mãe Terra.
Gravada no início dos anos 1980, a música integra o álbum “A Arca de Noé”, projeto voltado para crianças, criado por Vinicius de Moraes e Toquinho. Um disco de histórias que tocam o coração. A interpretação de Ney em “São Francisco” é mais que uma canção. É um chamado. Sua delicadeza ao cantar o santo dos animais encantou crianças e adultos, traduzindo com emoção a espiritualidade e a beleza do mundo natural. A faixa se tornou um clássico, e sua voz, um abraço.
Mas Ney não ficou apenas no canto. Foi à tribuna, participou de audiências públicas, abraçou projetos de lei e falou por quem não pode se defender. Lutou contra o tráfico de animais silvestres, denunciou os impactos da agropecuária industrial e transformou sua fazenda em reserva particular de proteção. Em parceria com ONGs e ativistas como Luisa Mell, tornou-se escudo da fauna brasileira, com a mesma força e entrega com que sobe ao palco.
Ney esteve em Brasília em apoio ao Projeto de Lei 4.278/2023, que propõe fortalecer a proteção dos animais silvestres, com penas mais rigorosas para crimes como maus-tratos e tráfico.

Foto: Ney Matogrosso na Câmara Federal - TV Câmara
Como São Francisco, Ney escolheu o lado dos que não têm vez. Renunciou a moldes, recusou máscaras e encontrou grandeza no essencial. Tal como o jovem de Assis, que trocou o luxo pela humildade, Ney construiu sua jornada pautada pela liberdade, compaixão e cuidado com a vida.
Francisco nasceu em 1182, na Itália, filho de um rico comerciante. Viveu uma juventude intensa, participou de guerras, adoeceu e, num processo de profunda transformação, sentiu-se chamado à simplicidade. Abandonou tudo, fundou a Ordem Franciscana, pregou aos pobres, acolheu os animais e falou da paz como quem a vivia. Morreu em 1226 e foi canonizado dois anos depois. É celebrado até hoje como símbolo da ecologia e do cuidado com a criação divina.
Ney nasceu no Brasil, no século XX, e trilhou um caminho semelhante. Rejeitou convenções, guiou-se por beleza e ética, e defendeu os que não têm voz. Participou da gravação da música “Defaunação”, idealizada pela ONG Proteção Animal Mundial, alertando sobre os riscos do desmatamento e da agropecuária industrial. Em audiências públicas, defendeu penas mais duras para crimes contra animais. Com Luisa Mell, falou da incoerência nas leis que punem com desigualdade os crimes contra animais domésticos e silvestres. Compartilhou histórias de infância, quando presenciou maus-tratos, e revelou como essas memórias o transformaram num ativista. Seu compromisso foi além das palavras: transformou sua propriedade em espaço de preservação e atua em mobilizações pela vida animal.
Ney Matogrosso não apenas canta. Ele traduz. Traduz os silêncios das matas ameaçadas. Traduz o que os bichos talvez diriam, se pudessem. Traduz a presença viva de São Francisco em um mundo barulhento e tantas vezes insensível.
Hoje, ao soprar 84 velas, Ney reacende em nós a certeza de que a arte pode curar, a ternura pode resistir, e os animais, ainda que feridos, têm quem os proteja com amor e coragem. Com ele, aprendemos que amar os bichos é também amar o planeta.
Ẹni tí ó fẹ́ ẹranko, ó fẹ́ àgbáyé! (Quem ama os animais ama a natureza!)
Axé para todos!
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