No Candomblé, toda semana é santa – cada dia tem o axé de um Orixá
- Paulo de Oxalá
- 17 de abr.
- 2 min de leitura

Foto: Os Orixás e os dias da semana – IA com arte e matizes de Pai Paulo de Oxalá
Não é só uma quinta-feira: É dia de Ọ̀ṣọ́ọ̀sí
Enquanto no catolicismo há uma "semana santa" dedicada à memória de Jesus Cristo, no Candomblé todos os dias são sagrados. Isso porque, para nós, cada dia da semana carrega o axé de um ou mais Orixás — divindades que orientam a vida, o equilíbrio e o bem-estar. Por isso, não há uma única semana considerada santa: todas já o são.
Nesta quinta-feira, por exemplo, celebramos a força de Ọ̀ṣọ́ọ̀sí — o caçador que domina as matas, patrono da fartura, da sabedoria e do alimento. É dia propício para tratar de assuntos ligados à prosperidade, à busca de soluções e ao conforto da vida material.
Assim como os santos católicos têm seus dias, no Candomblé também adotamos uma organização semanal ligada às divindades. Porém, o calendário tradicional yorubá — uma das bases da nossa religião — é diferente: formado por apenas quatro dias sagrados, os Ọ̀sẹ̀ Ọjọ́ Mẹ́rin Mímọ́, cada um dedicado a aspectos essenciais da vida. São eles:
Ọjọ́ Awo (Dia do Conhecimento) – Èṣù, Òrúnmìlà, Ọ̀ṣun
Ọjọ́ Ìṣẹ́gun (Dia da Vitória) – Ògún, Ọ̀ṣọ́ọ̀sí, Ọ̀sányìn
Ọjọ́ Jàkúta (Dia da Justiça) – Ṣàngó, Bàyànnì, Dàdá Àjàká
Ọjọ́ Ẹdá ou Àìkú (Dia da Criação/Eternidade) – Òṣàlá, Odùdúwà
Com a colonização e a imposição da semana de sete dias, o culto aos Orixás, recriado aqui no Brasil, que se passou a chamar Candomblé, reorganizou seu calendário. Os dias dos Orixás foram incorporados à nova contagem, criando uma rica tabela de culto que reflete a sabedoria dos nossos ancestrais e sua capacidade de adaptação. Hoje, temos:
Segunda-feira – Èṣù, Ọmolu e Nàná (comunicação, saúde e trabalho)
Terça-feira – Ògún, Òṣùmàrè (caminhos, tecnologia, expansão)
Quarta-feira – Ṣàngó, Yánsàn, Ọbà, Iyewá (justiça, finanças, liderança)
Quinta-feira – Ọ̀ṣọ́ọ̀sí, Lógun Ẹ̀dẹ, Ọ̀sányìn (prosperidade, cura, fartura)
Sexta-feira – Òṣàlá e os Funfun (paz, reconciliação, harmonia)
Sábado – Ọ̀ṣun, Yemọjá e todas as Àyabás (amor, maternidade, união)
Domingo – Ibéji e todos os Orixás (alegria, infância, equilíbrio geral)
Além disso, o chamado Ossé, que deriva de “ọ̀sẹ̀” (semana, em yorubá), marca o dia escolhido por cada casa de santo-terreiro para o culto e cuidado com os Orixás. A depender da nação e tradição, esse dia pode variar. Por exemplo, no Jeje, a segunda-feira é reservada ao culto dos Voduns ligados à Terra, como Ànǎbiƙɔ̀, Gbèsèn e Sàƙƥàtà.
Como eu disse, não há uma única semana santa no Candomblé porque toda a existência é sagrada. Cada dia tem sua função espiritual, sua força, seu Orixá. E é essa conexão diária que orienta nossas decisões sobre trabalho, saúde, amor e espiritualidade.
Axé para esta quinta de Ọ̀ṣọ́ọ̀sí — que Ele traga fartura, alimento e sabedoria para todos nós!
Òkè Àró!
Salve Oxóssi e todos os Orixás!
Axé para todos!
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