Ana Maria Gonçalves leva a força dos Orixás à Academia Brasileira de Letras
- Paulo de Oxalá
- 11 de jul.
- 2 min de leitura

Foto: Ana Maria Gonçalves e o livro Um Defeito de Cor - divulgação
Escritora ocupa a cadeira 33
A força ancestral e a fé nos Orixás já estão presentes nas cadeiras da Academia Brasileira de Letras através de Gilberto Gil, filho de Xangô. Agora também ganham voz com Ana Maria Gonçalves, eleita para a Cadeira 33, tornando-se a primeira mulher negra a integrar o quadro de imortais da instituição fundada em 1897. Nascida em Ibiá, Minas Gerais, Ana Maria tem a proteção de Yansã e Oxóssi e fez questão de aparecer em público com seus fios de conta, reafirmando a presença viva de suas raízes religiosas.
A escolha de Ana Maria, autora do aclamado Um defeito de cor, é uma vitória simbólica para quem acredita que a literatura pode ser território de reparação histórica. Em seu romance, ela resgata a trajetória de Kehinde, uma menina capturada no Reino do Daomé e trazida ao Brasil como escravizada, que encontra na força dos Voduns e Orixás o combustível para lutar pela própria liberdade. O livro é considerado um dos mais importantes do século XXI por dar voz à memória coletiva de uma diáspora que se mantém viva na fé e nos terreiros.
A eleição de Ana Maria rompe um ciclo de silêncio. É também resposta para quem ainda insiste em invisibilizar a religiosidade afro-brasileira em espaços de prestígio. Com sua presença, a ABL se aproxima de um Brasil mais real, onde cores, crenças e corpos são diversos. Ao lado de seu nome, Ana carrega Oxóssi, senhor da fartura e da caça, e Yansã, senhora dos ventos e tempestades. São eles que abrem caminhos, limpam o ar de injustiças e lembram que o conhecimento precisa ser livre como o vento.
A conquista da escritora é celebrada por quem entende que os Orixás também são força de criação, resistência e dignidade. Ela mesma resumiu o momento como resultado de um longo percurso. Nossos ancestrais correram para que a gente pudesse caminhar. É essa energia que agora ocupa o fardão, o salão nobre e cada estante da Casa de Machado de Assis.
Cada palavra escrita e cada história contada são mais um passo para que as heranças negras, indígenas e populares ocupem todos os espaços que sempre lhes foram de direito. Que o axé de Yansã e Oxóssi inspire novas gerações a honrar quem veio antes, escrever o presente e transformar o futuro.
Báwo ni ó dára láti gbé ìgbàgbó wa lọ sí gbogbo ibi! (Como é bom levar nossa fé a todos os lugares!)
Axé para todos!
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