Hoje, inspirem-se no axé de Xangô e na energia de São João
- Paulo de Oxalá
- 24 de jun.
- 2 min de leitura

Foto: Xangô erguendo seus machados e São João pregando no deserto / arte de Pai Paulo de Oxalá
Noite da poderosa Ààrò de Xangô
Hoje, dia 24 de junho, as fogueiras se acendem pelo país. Neste dia, os católicos celebram São João Batista, e nas casas de axé, os atabaques rufam para Xangô Ògòdò.
Na construção espiritual do Brasil, os caminhos de fé se entrelaçaram. Não por acaso, a imagem forte e decidida de São João Batista foi relacionada à nobreza de Xangô Ògòdò. Ambos são símbolos de poder que não se impõe pela força bruta, mas pela autoridade sagrada. Onde um levanta a voz no deserto, o outro ergue os machados ao céu, e nos faz ouvir sua voz por entre relâmpagos e clarões.
O fogo da transformação
O fogo que ilumina nas noites juninas é mais que festa: é elemento que consagra, aquece e purifica. Para os povos yorubás, Iná (o fogo), é um dos elementos mais sagrados. E Xangô, entre todos os Òrìṣà, é aquele cuja imagem aparece sobre brasas. Não há injustiça que permaneça diante de seu calor. Não há mentira que resista ao seu julgamento.
Em muitos terreiros, junho é tempo de Ààrò (fogueira) de Xangô. Armadas com sabedoria ancestral, essas fogueiras ardem como sentinelas do tempo, celebrando o Rei de Oyó, guardião da ética, da palavra e do equilíbrio. No calor dessas chamas, oferecemos nossas dúvidas e clamores. É como se o fogo respondesse em silêncio, queimando os excessos e devolvendo clareza.
E quando o Ajere — a panela de barro com brasas vivas — surge no meio do xirê, sabemos que algo se move. Xangô dança. Yánsàn recolhe o calor e leva ao longe. A justiça se espalha como labaredas. E nós, povo do axé, recebemos a energia desse rito com o coração aberto.
Hoje, ao ver uma fogueira acesa, não veja apenas a tradição das festas juninas. Veja também um chamado à retidão, ao equilíbrio e à coragem. Que Xangô Ògòdò nos inspire, com seus dois machados erguidos, a sermos justos até quando ninguém está olhando.
Porque em tempos de confusão, a chama da verdade ainda prevalece.
Kawòó Kábíyèsi!
Salve Xangô!
Axé para todos!
Comentários