Entenda a frase lida em uma loja: “Vendemos tudo, menos a garota”
- Paulo de Oxalá
- 26 de jun.
- 2 min de leitura

Foto: Orixás e o que não se revela – IA inspirada na visão religiosa de Pai Paulo de Oxalá
Os Orixás nos ensinam a guardar os tesouros espirituais
Os Orixás nos ensinam, antes de tudo, sobre o valor do que é essencial. Cada um deles, de Exu, senhor da comunicação, até Oxalá, o pai da criação, nos orientam quanto ao equilíbrio, à responsabilidade, à ética e à luz. Em suas forças, se traduzem princípios que não cabem equívocos: o cuidado com a palavra, o respeito ao tempo, o acolhimento da dor alheia, a firmeza no que é justo e a força que nasce da fé.
Dentro das casas de axé, há sim preceitos, obrigações e responsabilidades, que movem o culto. Há valores que não se relativizam. Há gestos que não se improvisam. O que de fato está em cena, é sempre a construção de um mundo mais justo, mais consciente, mais ancestral.
Essa mesma reflexão sobre o que deve ser preservado aparece na filosofia da banda inglesa Everything But The Girl.
Criada nos anos 1980, a dupla formada por Tracey Thorn e Ben Watt transformou sua arte em um espaço de resistência sensível. O nome do grupo surgiu de uma frase curiosa lida em uma loja: “Vendemos tudo, menos a garota.” A garota, nesse caso, era uma boneca grande. Mas, em vez de falarmos em venda, é mais adequado falarmos em limites do que se compartilha.
A “boneca”, aqui, é metáfora daquilo que permanece inviolável, o íntimo, o que é humano, o que não se entrega ao mundo de qualquer maneira.
Em suas canções densas e poéticas, a banda nos leva a pensar: até onde pode ir o mundo exterior antes de esbarrar na fronteira do que é sagrado em nós? O que ainda preservamos com reverência, como uma oferenda a nós mesmos?
Essa é a mesma fronteira que os Orixás nos ajudam a traçar: a linha tênue entre o que é público e o que pertence ao Orí; entre o que pode ser ensinado e o que precisa ser vivido em silêncio. Preservar o que há de ético e verdadeiro em nossas relações é também um gesto de fé.
Na arte e na religião, existe sempre algo que permanece intocado, e não por medo, mas por respeito. Algo como um axé que se guarda como tesouro espiritual.
Saiba escutar e saiba guardar, lembrando que:
Ohun tí a kò sọ kì í bàjẹ́. (O que não se revela, não se estraga.)
Axé para todos!
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