A saga dos malês e a resistência do Candomblé no filme de Antonio Pitanga
- Paulo de Oxalá

- 1 de out.
- 3 min de leitura

Foto: equipe e cena do filme Malês – divulgação
Longa estreia nesta quinta-feira contando o episódio que ajudou na abolição da escravatura
A Revolta dos Malês, ocorrida em 25 de janeiro de 1835, foi um dos maiores levantes de africanos já registrados em terras brasileiras. Líderes muçulmanos e sacerdotes de àwọn Òrìṣà (Orixás) se uniram em nome da liberdade e da preservação cultural e espiritual, assegurando a continuidade da identidade dos povos de origem africana. Esse movimento ajudou no fortalecimento do Candomblé como conhecemos hoje, que começou a ganhar forma com a fundação dos primeiros terreiros baianos a partir da década de 1830 e 1840, e também na abolição da escravatura no Brasil com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888.
Embora nomes como Lícutań, Àlùfá Rufino e Àhùnà sejam lembrados pela liderança muçulmana, havia também personagens que mantinham vínculos com os cultos aos Orixás. Muitos africanos, mesmo sendo seguidores do Islã, buscavam proteção no culto dos Orixás. Usavam folhas sagradas, recitavam rezas em yorùbá e realizavam rituais que mais tarde se consolidaram no Candomblé.
Essa trajetória de resistência está no centro do filme Malês, dirigido por Antonio Pitanga. A produção estreia nesta quinta-feira, 2 de outubro, em todos os cinemas do país, e revive a insurreição ocorrida em Salvador, quando africanos muçulmanos se levantaram contra a escravidão e a opressão colonial.
A história fala de homens e mulheres arrancados da África, que desafiaram as correntes da escravidão e lutaram pela liberdade coletiva. Entre os destaques está a história de um jovem casal muçulmano, separado pelo tráfico negreiro, que enfrenta perseguições e luta para sobreviver e se reencontrar.
Pitanga interpreta Pacífico Licutan, líder real da revolução, que esteve ao lado de figuras como Ahuna, Manuel Calafate, Vitório Sule e Luís Sanim. O diretor ressalta a importância da união entre povos de diferentes etnias e crenças, mostrando como essa diversidade foi fundamental para desafiar o sistema escravista.
Mesmo com planos cuidadosamente preparados, escritos em árabe e a coleta de recursos para armas, a revolta foi denunciada e sufocada pelas tropas da Guarda Nacional e por civis armados. A derrota imediata não apagou sua relevância histórica, pois mostrou a força da organização negra e deixou marcas profundas na luta pela dignidade e pela liberdade.
Filmado em Salvador, Cachoeira e também em Maricá, no Rio de Janeiro, o longa retrata com realismo o cotidiano dos negros na Bahia do século XIX, marcado por pobreza, racismo e intolerância religiosa. O roteiro de Manuela Dias e a fotografia de Pedro Farkas reforçam o caráter épico da produção.
O elenco reúne nomes de peso como Camila e Rocco Pitanga, Bukassa Kabengele, Rodrigo dos Santos, Heraldo de Deus, Samira Carvalho, Wilson Rabelo e Patrícia Pillar. A produção é de Flávio R. Tambellini, com coprodução da Globo Filmes, Obá Cacauê, Gangazumba Produções e RioFilme, além do patrocínio da Petrobras Cultural.
Mais do que um drama histórico, o filme resgata um capítulo silenciado da história brasileira, trazendo à tona a coragem dos malês e reafirmando o papel da resistência negra na construção da liberdade.
Nígbà tí a bá farada pẹ̀lú ọgbọ́n, a ń dá ìtàn wa múlẹ̀ a sì ń dájú pé àná wa máa bójú títí dé ìwájú. (Quando resistimos com sabedoria, consolidamos a nossa história e garantimos o nosso futuro.)
Axé para todos!




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