A cultura e a religiosidade afro nos 100 anos do Grupo Globo
- Paulo de Oxalá

- 22 de ago.
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Foto: 100 anos de axé – arte Pai Paulo de Oxalá
Extra e Expresso sempre deram voz ao povo de santo
O jornal O Globo está comemorando 100 anos de fundação. Desde 1925 o periódico se consolidou como uma das principais vozes da imprensa brasileira, registrando não apenas os grandes fatos políticos e sociais, mas também os movimentos culturais e religiosos que ajudaram a moldar a identidade do país. Pelas páginas de O Globo muitas manifestações ligadas ao samba, à Pequena África, aos terreiros de Umbanda e ao Candomblé ganharam destaque em uma época em que o preconceito insistia em calar a herança africana.
Ao longo do século XX o jornal acompanhou o crescimento do samba no Rio de Janeiro, noticiou festas de Yemanjá, a Lavagem do Bonfim e o universo de personalidades do carnaval que sempre estiveram ligados à religiosidade afro. Também trouxe à tona episódios de intolerância, denunciando ataques a terreiros e reforçando a importância do respeito à diversidade. No extinto Expresso e no atuante Extra a pauta foi ainda mais popular, com muitas denúncias de racismo religioso e também com reportagens que exaltavam o axé das religiões afro-brasileiras. Alcione, Diogo Nogueira e outros artistas que se assumem filhos de santo ganharam páginas que mostraram orgulho e pertencimento. Assim, a versão impressa do Grupo Globo abriu caminho para que, anos depois, a televisão desse ainda mais visibilidade a essas tradições.
Em 1965 nasceu a TV Globo, que neste ano completa 60 anos. A emissora se transformou em uma das maiores forças culturais do Brasil e, desde o início, ofereceu espaço para o Candomblé, a Umbanda e a cultura afro-brasileira em diferentes formatos que iam do jornalismo às novelas, das minisséries aos programas de auditório, dos musicais aos debates.
Em 1971 o Jornal Nacional noticiou a morte de Joãozinho da Goméia, uma das primeiras vezes em que a partida de um sacerdote do Candomblé teve repercussão nacional. Dois anos depois, Chacrinha consagrou Mãe Menininha do Gantois ao colocar no ar a canção de Dorival Caymmi em sua homenagem. O Globo Repórter exibiu grandes documentários como O Poder do Machado de Xangô em 1976, Arte Sacra Negra em 1979 e Egungun em 1983, sempre levando a força da religiosidade afro para milhões de lares.
A dramaturgia também teve papel fundamental. Tenda dos Milagres em 1985 exaltou Jorge Amado e eternizou a canção É d’Oxum. O Pagador de Promessas em 1988 levou a fé em Yansã para o horário nobre. Porto dos Milagres em 2001 reverenciou Yemanjá, enquanto Lado a Lado em 2012 destacou a resistência negra e trouxe uma Yalorixá como personagem central. Já O Canto da Sereia em 2013 reforçou a ligação entre carnaval, música e Candomblé.
A emissora também esteve presente em lutas contemporâneas, como na cobertura da primeira Caminhada contra a Intolerância Religiosa em 2008 e na série O Sagrado em 2009, que promoveu o diálogo entre diferentes credos. O jornalismo seguiu denunciando ataques a terreiros e reafirmando o direito à liberdade de culto.
Mais recentemente a relação entre as novelas e o Candomblé voltou a ganhar força. Vai na Fé em 2023 mostrou a beleza e a força do Candomblé em horário nobre. O remake de Renascer em 2024 destacou rituais de matriz africana através da personagem Inácia, interpretada por Edvana Carvalho, reforçando o combate ao racismo religioso. Mania de Você apresentou Viola, personagem de Gabz, que mergulha na fé e na ancestralidade como forma de autoconhecimento.
Reconhecimento e 100 anos de axé
Nesta quinta-feira, dia 21, o Congresso Nacional promoveu uma sessão solene em homenagem aos 100 anos do Grupo. A cerimônia, realizada no Senado, reuniu autoridades, parlamentares, artistas e representantes da empresa, que destacaram sua relevância cultural e o compromisso histórico com a informação autêntica e de qualidade.
Hoje, com um século de história no impresso e seis décadas na televisão, o Grupo Globo carrega em sua memória o registro e a valorização da cultura afro-brasileira.
Que venham mais 100 anos de liberdade e axé.
Salve a Cultura Afro-Brasileira!
Axé para todos!




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