Rio se despede de Haroldo Costa, jornalista e escritor que exaltou Mãe Beata de Yemọja e a força dos terreiros
- Paulo de Oxalá

- há 1 dia
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Foto: Haroldo Costa e Mãe Bata de Yemonjá – Marcos de Paula e redes sociais
Haroldo Costa nasceu na cidade maravilhosa, e pulsava tambor, palco e avenida
Carioca que pulsava tambor, palco e avenida, Haroldo Costa nasceu na cidade maravilhosa, múltipla e diversa, que lhe revelou as raízes africanas que sustentam a cultura brasileira e o conduziu a divulgar, com atenção especial, a presença viva dos Orixás no cotidiano, na arte e na formação da nossa identidade.
Muito além da televisão, do teatro e do carnaval, Haroldo foi um intelectual do axé. Seu olhar sensível compreendia que os Orixás não estão restritos ao espaço do terreiro, mas participam ativamente de várias vertentes da vida social, ecoando sua força nos toques das baterias, inspirando enredos e moldando gestos, ritmos e narrativas do povo brasileiro. Em seus livros, pesquisas e falas públicas, ajudou a traduzir para o grande público a profundidade simbólica do Candomblé e da Umbanda, sempre com respeito, rigor histórico e compromisso com a ancestralidade.
Desde os tempos do Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias do Nascimento, Haroldo entendeu a cultura como instrumento de resistência e afirmação. Ali iniciou uma trajetória que o colocaria entre os mais importantes divulgadores da história afro-brasileira, dialogando com artistas, religiosos e pesquisadores, sem jamais dissociar arte de espiritualidade. Para ele, os Orixás eram fundamento civilizatório, força organizadora da cultura e matriz essencial da brasilidade.
No carnaval, campo onde deixou marcas profundas, Haroldo foi um dos grandes intérpretes da religiosidade afro-brasileira na avenida. Identificava nos desfiles a presença dos Orixás não apenas nos temas explícitos, mas na cadência, nos gestos e na energia coletiva que move as escolas de samba. Ao relacionar os toques sagrados aos ritmos do samba, ajudou a legitimar o carnaval como espaço de expressão religiosa, memória ancestral e resistência cultural.
Sua obra escrita reforça esse legado. Ao abordar a cultura afro-brasileira, o samba e figuras centrais da religiosidade, como Mãe Beata de Yemọja, Haroldo contribuiu para preservar histórias que por muito tempo foram silenciadas. Sua escrita manteve compromisso com a memória, com o reconhecimento dos saberes de terreiro e com a valorização das lideranças religiosas que sustentam comunidades inteiras.
Haroldo Costa foi uma ponte entre o sagrado e o popular, entre o terreiro e o palco, entre a ancestralidade africana e o Brasil contemporâneo. Sua trajetória ajudou a educar olhares, combater o preconceito, a intolerância e o racismo, e a afirmar a importância dos Orixás como pilares culturais e espirituais do país.
Haroldo Costa morreu aos 95 anos neste sábado, no Rio de Janeiro. O velório será realizado na quadra do Salgueiro, na segunda-feira, dia 15. Com sua partida, o Rio se despede de um de seus grandes guardiões da memória afro-brasileira, mas seu legado segue vivo, pulsando no axé, no samba e na história que ele ajudou a contar.
O mà ṣéun pupọ Haroldo Costa fún iṣẹ́ tí o ṣe sí ìtàn àti àṣà àwọn Òrìṣà! (Muito obrigado, Haroldo Costa, pelo trabalho dedicado à história e às tradições dos Orixás!)




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