Papa Leão XIV recebe bandeira com Ossaim no Vaticano
- Paulo de Oxalá

- há 15 horas
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Foto: Papa Leão XIV recebe bandeira com Ossaim de Ayala Ferreira - divulgação
5º Encontro Mundial dos Movimentos Populares uniu fé e justiça social
Ọ̀sányìn (Ossaim) é o senhor das folhas, guardião da cura que nasce da natureza. Cada folha contém um segredo e cada raiz guarda a potência da vida que se renova. A saúde física e espiritual se alimenta desse conhecimento ancestral que fortalece o corpo e pacifica o Orí, a cabeça que governa nossos caminhos. O equilíbrio se torna um dos maiores bens que a humanidade pode alcançar. Quando esse equilíbrio se une à fé, forma-se um alicerce sólido que sustenta a coragem diante das incertezas do mundo.
A fé que une povos, culturas e histórias diferentes foi celebrada de maneira simbólica na Sala Paulo VI, no Vaticano, em um encontro que já ocupa lugar de destaque no diálogo entre religiões e movimentos populares. Mais de 130 organizações sociais de várias partes do mundo participaram do 5º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, realizado no último dia 23, reforçando a importância da defesa de direitos essenciais. Terra, moradia e trabalho foram reconhecidos pelo Papa Leão XIV como direitos sagrados que devem ser protegidos e promovidos por todos que acreditam em uma sociedade justa.
O momento de maior emoção ocorreu quando Ayala Ferreira, dirigente do Movimento Sem Terra, presenteou o pontífice com uma bandeira que traz a imagem de Ossaim. O gesto se transformou em símbolo de respeito às tradições afro-brasileiras e emocionou participantes do evento. A imagem do Orixá que rege o axé das plantas e da medicina natural chegou às mãos do líder da Igreja Católica como mensagem universal de união, cura e equilíbrio.
Em sua fala, o papa ressaltou que a luta por dignidade social precisa caminhar ao lado da espiritualidade. Recordou que os processos de transformação social geralmente nascem das bases populares. A força da esperança está em quem resiste, trabalha e cultiva a terra. Ao reforçar esse posicionamento, o pontífice atualiza um legado que remete à defesa do diálogo com movimentos sociais e à escuta das demandas das periferias do mundo. A continuidade dessa agenda deixa claro que a Igreja permanece atenta às desigualdades que ferem a humanidade e comprometida com ações concretas de solidariedade.
A entrega da bandeira com Ossaim representa muito mais que uma homenagem. Marca a presença viva e ativa das religiões de matriz africana no debate internacional sobre o futuro da humanidade. Ossaim ensina que toda vida que nasce sob o sol é sagrada e que a cura começa no cuidado com o planeta e com o outro. O equilíbrio que ele proporciona floresce na convivência harmônica entre diferentes crenças, saberes e povos.
A celebração no Vaticano mostrou que a fé pode ser ponto de encontro e jamais motivo de separação. A imagem de Ossaim erguida diante do papa sinalizou que o sagrado se manifesta de múltiplas formas e que cada uma delas contribui para o bem comum. O diálogo entre catolicismo e Candomblé se fortalece, convidando o mundo a reconhecer e respeitar tradições que sustentam milhões de vidas e constroem pontes de entendimento.
O acolhimento e a liberdade de fé
As folhas que curam continuam protegidas por Ossaim, símbolo da vida que renasce. A justiça social permanece no centro de um discurso capaz de inspirar o mundo. Este encontro já ocupa seu lugar na história da religiosidade afro-brasileira, que por tantos anos enfrentou perseguições, e que agora, em um gesto de empatia e acolhimento, vê surgir a reparação necessária. O reconhecimento de que a liberdade de fé constitui parte essencial da dignidade humana anuncia novos caminhos.
Que a semente depositada no Vaticano floresça e se expanda como folhas de esperança, sustentando um futuro mais humano, equilibrado e verdadeiramente sagrado.
Ewé o asà! Salve Ossaim!
Axé para todos!




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