top of page
Buscar
Foto do escritorPaulo de Oxalá

Origem do Candomblé Jeje e o Culto dos Voduns


Foto: Povo Jeje - arte Pai Paulo de Oxalá



Cerimônias são originárias do Benim, Togo e Gana

 

 

O culto aos Voduns, divindades originárias da África Ocidental, particularmente das regiões que hoje correspondem ao Benim, Togo e Gana, desempenha um papel central na espiritualidade desses povos. Quando esses grupos foram trazidos ao Brasil durante o período da colonização, foram chamados de Àjèjì pelos yorubás, que já estavam estabelecidos no país. Àjèjì, que significa "estranhos" ou "forasteiros," acabou sendo aportuguesado e evoluiu para a palavra "Jeje," que passou a denominar a forma de culto aos Voduns no Brasil, também conhecida como Candomblé Jeje.

 

Na África, os rituais dedicados aos Voduns eram predominantemente conduzidos por mulheres, que comandavam a incorporação das divindades nas pessoas. Essas sacerdotisas fizeram a junção de elementos de magia, espiritualidade, medicina tradicional e oferendas aos Voduns. Com isso, elas desenvolveram essa prática religiosa, que tem uma profunda conexão com o espiritual e com a vida cotidiana.

 

Com a diáspora africana, expressão que descreve a chegada dos povos africanos em várias partes do mundo, o culto aos Voduns foi levado para outros países. No Haiti, por exemplo, ele se fundiu com outras tradições religiosas, dando origem ao Vodu haitiano. No Brasil, essa tradição se manifestou no Candomblé Jeje, e em Cuba, na Santería. Em cada uma dessas regiões, o culto aos Voduns passou por adaptações, absorvendo influências culturais locais e se transformando em práticas e crenças distintas, mas mantendo a essência de sua conexão com o sagrado e com os ancestrais.

 

No Brasil, a organização do culto aos Voduns como conhecemos hoje começou em 1821, em São Luís do Maranhão, com a chegada de Dona Francisca da Silva de Oliveira, também conhecida como Na Agontimé. Ela era uma rainha do Reino do antigo Dahomé e foi a fundadora da Casa das Minas, um dos primeiros terreiros de Candomblé Jeje no Brasil.

 

Na Bahia, outros terreiros Jejes foram criados no século XVIII, como o Zógɓoɖo Malé Bogʊɲ Séja Ɦʊ̀ɲɗe, em Cachoeira de São Félix, o Zógɓoɖo Bogʊɲ Malé Ɦʊ̀ɲɗó, em Salvador, e o terreiro do Ƥɔ̀ɗáɓá, no Rio de Janeiro. Todos esses terreiros serviram como matriz do culto Jeje em nosso país.

 

O culto aos Voduns é dividido em famílias, que têm animais, astros celestes e fenômenos da natureza como símbolos religiosos. Por exemplo, a família de Ɗǎɲ inclui Voduns como Gbèsèn, Ɗóƙuɛ̀ɲ e Ɓafòɲó, que são representados por uma serpente e pelo arco-íris. A família dos Voduns Ɠɓɛ̀to (caçadores) inclui Voduns como Aɠǎɲɠá Otólù, Aɠɛ́ e Zaƙá, que são simbolizados por vários animais, como pássaros e felinos. Os Voduns da família do Zó (fogo), como Ɦéʋíosò e Sóɠɓó, têm o gavião como símbolo. Já os Aƴì Vòɗʊ́ɲ (divindades da terra), como Sàƙƥàtá e ƙƥóssù, têm a pantera como símbolo.

 

Já Mawú, considerada a divindade suprema, tem a lua como símbolo, e Lissá é representado pelo sol. Estes Voduns pertencem à família Ɗjèɲùɲƙó (do céu), também chamada de família Ɗavìcɛ́. A união de Mawú-Lissá simboliza a dualidade e a criação.

 

A interação entre a cultura Jeje e a cultura yorubá no Brasil levou à incorporação dos Orixás (divindades yorubás) aos Voduns. Essa fusão foi chamada de Nagô-Vòɗʊ́ɲ, e, por isso, Orixás como Ògún, Ọ̀ṣọ́ọ̀sí, Yemọja, Ọ̀ṣun, Ṣàngó e outros também são cultuados nos terreiros Jeje.

Além dos cânticos, danças e oferendas específicas, os Voduns têm rituais próprios na iniciação dos Vodunsis (filhos de Vòɗʊ́ɲ) e festas públicas como o Ɓoita, uma celebração a Gbèsèn realizada no início do ano.

 

Como o Brasil recebeu africanos do Benim, Togo, Gana e de toda a África Ocidental, onde também se cultua Vòɗʊ́ɲ, o sistema que aqui foi organizado e denominado de Candomblé Jeje se subdividiu em cinco ramificações religiosas: Jeje Mahim, Jeje Modubi, Jeje Savalu, Jeje Dahomé e Mina Jeje.

 

Por tudo isso, pela força cultural e religiosa, e ainda pela beleza dos seus ritos, somados à gama de informações e saberes, a tradição Jeje é uma das vertentes mais importantes do Candomblé brasileiro.

 

Mawú na nʊ́ Vòɗʊ́ɲ sɛ̀m! (Que Deus abençoe os Sacerdotes de Vòɗʊ́ɲ!


Àcé Ɠoɲzóɲ!

27 visualizações0 comentário

Comments


WhatsApp-icon.png
bottom of page