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O Gavião de Sete Estrelas e a Coral de Jurema

  • Foto do escritor: Paulo de Oxalá
    Paulo de Oxalá
  • 10 de abr.
  • 2 min de leitura

Foto: Caboclo 7 Estrelas e Jurema – IA com arte e matizes de Pai Paulo de Oxalá



Relato do Caboclo em uma gira na Taba da saudosa Babá Antônia, 1973

 

Na gira de um sábado iluminado, no Terreiro Taba do Caboclo 7 Estrelas da Jurema, em Banco de Areia, Mesquita, o vento soprava como se trouxesse memórias antigas da mata. Era 1973, e os tambores soavam como corações chamando os Encantados.

 

Em um momento, o Caboclo 7 Estrelas firmou-se em frente ao Gongá e, virando-se para todos com sua voz forte porem suave, começou a contar:

 

— Quando eu era vivo na terra grande, caminhava pelas matas com o meu guardião, um gavião majestoso que batizei de Undanhaçu, o Grande Ser. Na língua nheengatu, é assim que se diz: “grande espírito”. Ele me acompanhava no alto, voando livre, mas com os olhos atentos. Qualquer ameaça, Undanhaçu me avisava com gritos cortando o céu.

 

Era minha flecha, meu olho distante, meu irmão de asas.

 

Certa manhã, estava preparando minhas flechas, firmando o meu bodoque, quando ouvi o pio alarmante de Undanhaçu. Saí correndo da taba. Ele voava em círculos sobre um arbusto, mergulhando com agressividade. Apontei o arco e mirei.

 

Mas antes que a flecha deixasse a madeira, um brado humano me parou.

 

Era uma mulher. Era a Cabocla Jurema, envolta em luz, olhos marejados de súplica.

 

— Não atire, Caboclo 7 Estrelas! Essa cobra é minha companheira!

 

Abaixei meu arco, confuso. Nunca vira alguém tratar uma coral com tanto carinho.

 

— Mas, Cabocla… como amar um bicho que carrega o veneno no corpo?

 

Jurema, com os pés descalços na terra e a firmeza de quem carrega segredos antigos, respondeu:

 

— Não é porque ela tem veneno que lhe falta amor. Nem tudo que fere quer ferir. Urissanê, como a chamo — que em tupi quer dizer vagalume — só caminha pela mata à noite, em silêncio, buscando calor, não guerra. Ela me protege tanto quanto Undanhaçu protege a ti.

 

Toquei meu peito com a mão, como se aquele ensinamento abrisse um novo mundo.

 

Mandei Undanhaçu parar a investida, e fiz sinal para Jurema se aproximar. Ela envolveu Urissanê nos braços como se fosse uma criança e sumiu entre os galhos, levando consigo o som do respeito.

 

— Aprendi ali, filhos meus — disse o Caboclo encerrando a doutrina — que a fé não é só flecha, não é só gavião que grita, não é só força que enfrenta. Às vezes, a fé é silenciar o instinto e escutar o que o coração do outro está dizendo. Às vezes, o que parece ameaça é só um ser buscando um lugar de afeto.

 

A moral da história é que nem tudo que carrega veneno é maldade. Às vezes, é proteção. Nem todo grito é aviso de guerra. Às vezes, é aviso de amor. E nem toda força se faz com luta — às vezes, a maior força está em abaixar a flecha.

 

Que saudades, do Seu 7 Estrelas, incorporado na Mãe Antônia!

Okê Caboclo!

 

Nhanderu imarã e’ỹ penimbora! (Que Deus abençoe a todos!)

 
 
 

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Tags: Babalorixá, Simpatia, Búzios, Tarot e numerologia

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