O candeeiro da Vovó Rita
- Paulo de Oxalá

- há 11 minutos
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Foto: A luz da Vovó Rita – arquivo Pai Paulo de Oxalá
A força da luz que sustenta a fé
O pequeno quarto permanecia envolto em penumbra, iluminado apenas pelas velas que, ardendo devagar, emanavam o perfume antigo dos Pretos Velhos. O ar era cortado por um silêncio respeitoso. No banquinho de madeira, Vovó Rita pitava seu cigarro de palha com a calma de quem já compreendeu todos os tempos.
Cada baforada trazia o cheiro da mata, do fogão à lenha, do chão batido onde a vida se ergueu com luta e fé. As grandes sementes do seu colar brilhavam na luz amarelada e pareciam narrar os passos de sua ancestralidade. Diante dela, numa pequena mesa, estava um copo grosso de vidro com azeite e uma chama que ardia firme. Aquele fogo não tremia. Era visível que estava sustentado por forças espirituais.
Aos seus pés, ajoelhei-me, pedi a benção com todo respeito e tomei assento no banquinho à sua frente. Encantado com aquela claridade forte e serena, perguntei com humildade:
“É uma lamparina, Vovó?”
Ela sorriu, como quem escuta a inocência do mundo, e respondeu:
“Não, meu filho. É um candeeiro.”
Meu pensamento se embaralhou. Desde criança aprendi a chamar aquele copo com azeite e pavio de lamparina. Para mim, candeeiro era o vidro de formato diferente que também recebia azeite para alimentar a chama. Decidi arriscar mais uma pergunta, sempre reverenciando:
“Vovó, com todo respeito, mas não é uma lamparina que está ao seu lado?”
Ela tragou o cigarro, soltou a fumaça com a sabedoria que atravessa os séculos, olhou nos meus olhos como quem vê muito além de mim e disse com brandura e firmeza:
“Meu filho, o que vale aqui é a luz, não o nome do objeto. Se você estiver com sede, não importa se bebe na caneca ou no copo. O que sacia a sede é a água. A luz é o princípio que guia, que afasta o escuro, que mostra o caminho. Vocês complicam o que nasceu simples. A vida não veio cheia de nós. Quem dá o laço apertado são vocês mesmos. Caminho é para ser seguido, não para ser encurtado. Atalho às vezes engana e faz a gente se perder.”
O ambiente parecia ouvir aquelas palavras, e até o silêncio inclinou a cabeça diante da verdade.
Agradeci, beijei-lhe a mão e retornei para casa. A noite caiu mansa. Fiz minhas orações, entreguei meus pensamentos aos ancestrais e deixei o sono me buscar com cuidado.
No meio da madrugada, como quem abre os olhos dentro de outro mundo, uma luz suave se aproximou. Aquela claridade não feria. Ela abraçava. Envolveu-me inteiro com um calor que lembrava colo de avó.
Uma voz, tão doce quanto firme, falou sem pressa:
“Aqui está a luz do candeeiro da Vovó Rita em seus caminhos. Sempre que a escuridão tentar te assustar, lembre-se de que a chama é sua aliada. Não temas o desconhecido. Tenha fé na sua própria luz, pois a força que guia seus passos nasceu muito antes de você. Siga adiante, com humildade e coragem. A proteção te acompanha.”
Acordei com o coração cheio de presença. A chama da sabedoria da Vovó estava comigo e tinha se transformado em um farol de força dentro do meu peito.
Desde então, compreendi que a luz não se preocupa com nomes, recipientes ou aparências. A luz apenas ilumina. A fé apenas sustenta. O amor apenas cura.
Que o candeeiro da Vovó Rita siga aceso em cada estrada, afastando sombras, revelando a clareza das escolhas e trazendo cura para o corpo e paz para o espírito. Porque quando seguimos a chama sagrada, nossa vida se torna luz.
É para quem tem fé!
Axé para todos!




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