As cidades dos Orixás
O Candomblé é uma religião organizada no Brasil por antigos africanos baseada em cultos de divindades nativas de diversas regiões daquele continente.
Como em solo africano o culto é individualizado, ou seja, se cultua apenas uma divindade por região, todos os habitantes do lugar, são seguidores daquela divindade. Como é o caso da antiga cidade nigeriana, Ọ̀yọ́, onde Ṣàngó foi o terceiro Aláàfin (rei). Em Ọ̀yọ́, o culto a Ṣàngó é coletivo e eles acreditam que os Aláàfin Ọ̀yọ́ (reis de Ọ̀yọ́) são descendentes de Ṣàngó.
Por ser guerreiro e desbravador dos caminhos na luta pela sobrevivência, Ògún é um Òrìṣà cultuado em diversas regiões africanas, mas tem o seu templo principal em Ìré, onde é aclamado como Onírè (rei de Ìré). Segundo as tradições, os reis de Ìré são também descendentes de Ògún.
Èṣù, o primaz dos Òrìṣà (Orixás), fiscalizador de tudo e do comportamento humano, é a única divindade cultuada em todas as regiões. Um dos seus templos principais fica em Ilé Ifẹ̀.
Ọ̀ṣọ́ọ̀sí ou Ọdẹ, o caçador, é originário de Kétu. Uma cidade surgida no antigo território yorubá. Com a atualização na demarcação de fronteiras, Kétu ficou situada no antigo país do Dahomé, atual República do Benin. Outras cidades nigerianas que cultuam Ọ̀ṣọ́ọ̀sí: Iléṣà, Ìràwọ̀ e Ìlóbú.
O culto às divindades femininas está relacionado com os rios que receberam os nomes dessas divindades. Yánsàn ou Ọya é cultuada nas margens do rio Níger, também chamado pelos yorubás de rio Ọya.
Ọ̀ṣun é a divindade do rio de mesmo nome que banha várias cidades, dentre elas, Iléṣà e Òṣogbo, onde acontece anualmente o festival de Ọ̀ṣun.
Yemọja é a divindade do rio Ògùn (nada há ver com o Òrìṣà guerreiro). Seu templo está localizado em Ìbárá, um bairro de Abẹ́òkúta. Para lhe prestar culto, seus seguidores vão buscar água numa fonte do rio Làkáṣá, um dos afluentes do rio Ògùn.
Ọbà também possui um rio com seu nome, que em seu percurso, suas águas se encontram com o rio Ọ̀ṣun provocando uma enorme agitação das águas. Segundo a cultura yorubá, esta agitação revive a disputa que Ọbà e Ọ̀ṣun tiveram por Ṣàngó. O templo principal de Ọbà fica na cidade de Ìbàdàn.
Iyewa é a divindade do rio Iyewa que fica na região de Ẹ̀gbádò. Seu templo principal fica na cidade de Àdó, que tem este nome em homenagem ao Àdó (um pequeno chocalho), símbolo de Iyewa.
As divindades que usam a cor branca são chamadas de Òrìṣà Funfun (Orixás Funfun). Estas divindades também são cultuadas em diversas regiões africanas tendo seus templos principais em: Ilé Ifẹ̀, Ẹ̀fọ̀n e Èjìgbò. A principal divindade Funfun é Ọbàtálá ou Òrìṣàlá (o rei da roupa branca).
Benin e Nigéria são países vizinhos, por isso os intercâmbios culturais desses povos unificaram cultos a muitas divindades originárias de ambas as regiões, como foram os casos de: Besẹn, Sakpata e Anabiokó que são divindades originárias da região Mahin do antigo Dahomé. O culto a estas divindades foi levado pelos ewes para diversas regiões da Nigéria. Os templos principais foram estabelecidos na antiga cidade de Kétu e Ilé-Ifẹ̀. Para os yorubás, Besẹn passou a ser chamado de Òṣùmàrè, Sakpata de Ọmọlu, e Anabiokó de Nàná.
Ilé Ifẹ̀, na Nigéria, é a cidade considerada sagrada dos Òrìṣà, pois pela tradição yorubá, Ilé Ifẹ̀ foi fundada por Odùdúwà, um ancestral divinizado. Ilé Ifẹ̀ é considerada o centro do mundo no qual se desenvolveram reinos, tribos, culturas e toda a existência.
No Brasil, a cidade considerada consagrada aos Òrìṣà (Orixás) é Salvador, pois mantém Terreiros seculares desde os primórdios da organização do Candomblé no país.
Àwọn Òrìṣà náà ọ̀run áwọn náà aráiyé! (Aos Orixás o céu, aos humanos a terra!)
Axé!
Fotos: Festival de Ọbàtálá em Ilé Ifẹ̀, Estado de Ọ̀ṣun, Nigéria. Orí (cabeça) de Olókun em Ilé Ifẹ̀. Os Orixás Flutuantes do Dique do Tororó em Salvador, Bahia, Brasil.