Bàbá Gill de Ọ̀ṣun promove o Seminário Ìwé Ìmọ̀

Foto: Bàbá Gill Ominirò - divulgação

 Além dos saberes ancestrais, projeto exalta o respeito à diversidade de fé

Nascido em Salvador, o menino Gill Sampaio tinha apenas nove anos quando começou a sofrer desmaios inexplicáveis. Sua mãe, aconselhada por uma amiga que era Ẹkẹdi de Ọ̀ṣun, levou-o a um terreiro em Feira de Santana, dirigido pelo Bàbálórìṣà Ricardo de Jàgún. Após o jogo de búzios, foi determinado que um ẹbọ deveria ser realizado. Durante o ritual, ocorreu o bọ́lọ̀nà, momento em que o Òrìṣà indica a necessidade da iniciação. Assim teve início sua trajetória espiritual. Gill foi iniciado para Ọ̀ṣun e Ògún por Pai Ricardo de Jàgún, que acompanhou todas as suas obrigações até o Orò ọdún méje, a obrigação de sete anos, quando passou a ser conhecido como Bàbálórìṣà Gill Ominirò.

Após o falecimento de Pai Ricardo em 2001, Bàbá Gill veio para o Rio de Janeiro em 2005 e passou a ser cuidado espiritualmente pela saudosa Ìyá Nitinha de Ọ̀ṣun, do Àṣẹ Engenho Velho. Atualmente, ele dirige o Ẹgbẹ́ Ominirò Láàlú àti Ọ̀ṣùn, em São Paulo, conduzindo sua casa com determinação e sensibilidade. Formado em Antropologia e Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, construiu uma sólida ponte entre a tradição dos terreiros e o universo acadêmico, dedicando-se à valorização e à preservação do patrimônio religioso afro-brasileiro.

Ao longo dos anos, Bàbá Gill tornou-se uma das vozes mais ativas na defesa das religiões de matriz africana. Seu nome está ligado a importantes frentes de combate à intolerância e ao racismo religioso, especialmente desde 2004, quando, ao lado do Intecab e do Dr. Hédio Silva Jr., participou de ações que marcaram a história jurídica e cultural do país.

Com o mesmo compromisso de valorizar e difundir o saber ancestral, Bàbá Gill criou há onze anos o projeto Ìwé Ìmọ̀, que em yorùbá significa “livro do conhecimento”. A iniciativa nasceu como uma plataforma de cursos e eventos voltados às tradições afro-religiosas, oferecendo formações como o curso Ewé Òrìṣà – Folhas Sagradas, que une antropologia, simbologia e espiritualidade. A Ìwé Ìmọ̀ consolidou-se como um espaço de partilha e aprendizado, onde o saber dos mais velhos encontra a curiosidade dos mais jovens, fortalecendo o diálogo entre gerações.

Neste ano, o projeto dá um novo passo com o 1º Seminário Ìwé Ìmọ̀, intitulado Candomblé, Conhecimento e Tradição, que traz como tema central Diversidades do Candomblé e o Candomblé na sua diversidade. O encontro reafirma o papel do Candomblé como uma religião nascida da pluralidade étnica e cultural, forjada na resistência e na união dos povos yorubás, fons e bantus, que moldaram as bases espirituais do Brasil.

O seminário será realizado em três etapas ao longo de novembro, cada uma dedicada a um eixo fundamental. De 4 a 6, o tema Candomblé, Saberes e Resistência abordará filosofia, antropologia, sociologia e o enfrentamento ao racismo religioso. Nos dias 11, 12 e 13, o eixo Candomblé, Saúde e Meio Ambiente ampliará o debate sobre a medicina tradicional e acadêmica, o cuidado espiritual e a relação sagrada com a natureza. Por fim, entre 17 e 19, o tema Candomblé é Vivência reunirá sacerdotes com mais de 40 anos de iniciação e jovens pesquisadores para partilhar histórias, aprendizados e experiências que sustentam a vida dos terreiros.

O evento contará com nomes de destaque como Pai Alabiy Ifakoya, Mãe Márcia Marçal, Mãe Márcia de Ògún, Mejitó Marcos, Dofono Hunxi, Pai Celso de Òṣàgiyán e Pai Dário de Ọ̀sányìn, além de outros sacerdotes, pesquisadores e militantes. Juntos, formarão um coro plural que reafirma o Candomblé como parte fundadora da sociedade brasileira.

A Ìwé Ìmọ̀ é mais do que um projeto, é uma ponte entre o conhecimento ancestral e o saber contemporâneo. O Seminário Nacional idealizado por Bàbá Gill Ominirò reafirma que preservar o Candomblé é também preservar a história do Brasil, sua diversidade, sua fé e sua humanidade.

Pín ìmọ̀ pín ìrírí ìyè! (Compartilhar saberes é compartilhar experiência de vida!)

Axé para todos!