A história de força e luz de Pai Joaquim de Angola
- Paulo de Oxalá
- há 3 dias
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Foto: O benevolente Pai Joaquim de Angola - IA-inspirada na visão religiosa de Pai Paulo de Oxalá
Do sofrimento ao Terreiro
Nos caminhos antigos do tempo nasceu em terras de Angola um homem de alma doce chamado Joaquim. Veio ao mundo na periferia de Lubango, cidade que respira tradição, história e resistência. Era filho de Antônio Nabulo e de Maria Nabulo. O pai era ferreiro de linhagem antiga dedicado a forjar espadas usadas por guerreiros de toda a Angola. A mãe carregava no olhar a sabedoria das matriarcas que conhecem o segredo das águas e o silêncio dos ancestrais.
Joaquim cresceu entre chamas, metais e folhas. Aprendeu com os avós vindos da região de Cabinda a magia que conversa com o invisível, a cura que nasce da terra e a fé que não se dobra ao sofrimento. Era mestre em magia e poeta de essência. Escutava as folhas como quem escuta conselhos e sabia que cada erva guarda um recado de Deus.
A harmonia se desfez quando a revolução se espalhou pelo país. A guerra devastou aldeias e famílias inteiras fugiram em busca de sobrevivência. Os pais de Joaquim partiram rumo à Nigéria sonhando com recomeço, mas o destino tomou outro rumo. Entre o caos e o desespero, o rapazinho foi separado da família e capturado como tantos forasteiros levados à força para os navios negreiros.
A travessia foi tristeza, sombra e resistência. O navio superlotado carregava corpos acorrentados e almas tentando lembrar o próprio nome. Mesmo assim, Joaquim guardava no peito a memória da terra natal e o perfume das tranças de Catarina, a jovem que ele amava.
Catarina era donzela de sorriso de rio e passos delicados. Diziam que nascera da lua. Quando caminhava, o vento abria passagem. O amor dos dois era tão profundo que a própria terra silenciava quando eles andavam juntos. Mas as madeiras maciças e as correntes do navio negreiro gritaram mais alto que qualquer promessa. Joaquim foi arrancado dos braços de sua amada como se o destino tivesse partido o coração em dois.
No Brasil, carregou cadeados nos pulsos e no pescoço, mas não permitiu que o espírito carregasse a mesma prisão. Trabalhou na roça, na casa grande e na senzala. Nos raros momentos de espiritualidade, transformava dor em paciência e sofrimento em compaixão.
Curava companheiros com folhas e rezas, acalmava espíritos aflitos e soprava orações como quem espalha cuidado sobre o mundo.
A fama de sua bondade caminhava depressa, cruzava matas, povoados e noites sem lua. Diziam que suas mãos brilhavam quando tocavam uma ferida. E que seus olhos viam caminhos que muitos desconheciam.
Certa vez, a filha do senhor de engenho adoeceu. Joaquim foi chamado como última esperança. Ele tentou de todas as maneiras. Rezou em silêncio, cantou para os ancestrais e suplicou às folhas e ao vento. Mas o destino já estava escrito por N’Zambi e a jovem partiu. A dor do senhor virou condenação injusta. Joaquim foi acusado de heresia e curandeirismo. Foi amarrado ao tronco diante de todos e chibatado até que o corpo se calasse. Quando seu corpo caiu, o senhor mandou retirar as correntes e, como por encanto, havia um sorriso manso em seu rosto. Era o sinal de que a morte não era o fim. Era apenas passagem para outro plano, um plano onde sua luz continuaria a guiar todos que tivessem fé nos ancestrais. Seu espírito se encontrou com Catarina, a jovem que ele amava e que partira cedo.
A partir desse momento, nas reuniões espirituais, o espírito de Joaquim começou a descer em filhos especiais. Ele chegou em terra como Pai Joaquim de Angola e Catarina como Vovó Catarina de Angola. Nos antigos Terreiros de chão batido e iluminados à luz de velas, Pai Joaquim de Angola passou a ser o Preto Velho curador, o conselheiro de humildade e o guardião da fé que não se quebra. Pai Joaquim é mestre de quem busca cura, paz e entendimento. Quando chega, vem devagar trazendo luz e mansidão. Encosta a bengala no chão e pede licença ao tempo e aos ancestrais. Fala com a calma do vento antigo. Ensina o perdão para a alma agitada, o amor para os corações em conflito e a fé para aqueles que já não enxergam saída.
Vamos louvar Pai Joaquim de Angola com esta oração que me foi entregue por ele em 1978.
Oração a Pai Joaquim de Angola
Com a luz de N’Zambi, sou Pai Joaquim de Angola. Venho no orvalho do sereno, na luz do sol e no encanto da lua. Em meu cachimbo carrego segredos de cura e em minhas palavras trago o conforto que ameniza a dor e cura o sofrimento. Na tribulação, dobre seu joelho e chame por mim que te responderei. Não só agora, sou teu Pai, sou teu Guia, sou Pai Joaquim de Angola.
Adorei as Almas, salve Pai Joaquim de Angola!
Axé para todos!
