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Paulo de Oxalá

Água-chuva, a limpeza do Àiyé


A água é muito utilizada nas religiões de matrizes africanas. Em muitos rituais ela aparece tendo um significado muito importante, desde o ritual do ìpàdé, quando ela é utilizada para acalmar as àjẹ́ (feiticeiras que se transformam em pássaros), até a cerimônia das águas de Òṣàlá, quando ela simboliza a limpeza lustral do “ẹgbẹ́ ilé” (comunidade de terreiro).


A água está relacionada através das Àyabá (mães Rainhas) à fecundidade, riqueza e à feminilidade. Cada um desses Òrìṣà (Orixás) domina uma fonte própria de água como: rios, mares, lagos e cachoeiras.


Colocar água sobre a terra significa não só fecundá-la, mas também restituir-lhe seu sangue branco com o qual ela alimenta e propicia tudo que nasce e cresce em decorrência, dos pedidos e rituais a serem realizados. Deitar água (jogar ao chão) é iniciar e propiciar um novo ciclo. Outro significado das águas de Òṣàlá (Oxalá), no Candomblé, em que a água é reverenciada como elemento portador do axé da vida, é que ela é essencial para renovar situações. Aqui no caso, foi o reconhecimento de Ṣàngó (Xangô) ante o poder de Òṣàlá (Oxalá).


É comum, ao se chegar a uma entrada de uma casa de Candomblé, que uma filha da casa venha com uma quartinha com água e despeje esta água nos lados direito e esquerdo da entrada da casa. Este ato é para acalmar Ẹṣù (Exu) e também para despachar qualquer mal que por ventura possa estar acompanhando esta pessoa. Neste caso, a água entra como um escudo contra o mal.


Os banhos litúrgicos chamados de àgbo, amacís e omierós, são a junção do ẹ̀jẹ̀ ewé (sangue das folhas) com o àṣẹ (força) das águas. Estes banhos são utilizados nas iniciações, limpezas espirituais, encantamentos e prevenções de doenças.


Entre os ẹbọras (ancestrais yorubás) e os Òrìṣà (Orixás) femininos, destacamos aqui Nàná. Nàná ou Nàná Burúkú ou Nàná Bukú, como é chamada no antigo Dahomé, é reverenciada também como o ancestre feminino dos povos fons por exercer o poder sobre a água da chuva, lama e o lodo. Esses elementos, segundo as tradições yorubás e fons, deram origem aos seres humanos.


Outro orixá feminino associado à água é o orixá Ọ̀ṣun. (Oxum) tem toda a sua história ligada às águas. Para os yorubás, Oxum é a responsável pelo “líquido amniótico” (água que envolve o bebê no ventre materno) e dona do rio Ọ̀ṣun em Òṣogbo, na Nigéria.

Não diferente dos demais Òrìṣà (Orixás) femininos Oyá ou Yánsàn, divindade dos ventos e tempestades, também está ligada às águas, pois na Nigéria Oyá é dona do rio Níger, também chamado pelos yorubás de Odò Oyá ou "Rio de Oyá".


Yamọjá (Yemanjá) a mãe de muitos Òrìṣà (Orixás), e considerada a Rainha das Águas, é o Òrìṣà (Orixá) que em terras yorubás é patrona de dois rios: Yamọjá e Ògun - não confundir com o Orixá Ògún, Deus do ferro. Daí Yamọjá estar associada à expressão Odò Ìyá (Mãe dos Rios). Aqui no Brasil o culto à Yamọjá (Yemanjá) está relacionado ao mar.


A água é um elemento natural importantíssimo não só para o culto dos Òrìṣà (Orixás), mas para tudo em nosso planeta. Devemos utilizá-la com muito carinho e respeito, pois ela é “a Grande Mãe, o Sangue da Terra, a Essência da Vida e o Axé de Todos!”.

Por isso, a chuva é um grande momento da natureza. Ela abastece rios, lagos, rega florestas, e milhares de plantas que nos alimentam, e também aos animais que vivem no meio ambiente sem o cuidado de ninguém.


A chuva faz a grande limpeza em todo ecossistema e limpa o ar que é tão importante para a vida.


Como disse; a chuva-água é a “Grande Mãe”, fundamental para que existam seres vivos no Àiyé (Terra, nosso planeta, que deveria se chamar: Planeta Vida, pois até onde se sabe, só aqui tem água. E onde tem água, há vida!).


Kíkí òjò mímọ́ ti Olódùmarè! (salve a chuva sagrada de Deus!).


Axé!






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