Viradouro tem o sim dos Voduns para o enredo ‘Arroboboi, Dangbé’
Atualizado: 18 de out. de 2023
Mãe Índia Nadoji consultou os búzios para a Escola
O carnavalesco da escola de samba Unidos do Viradouro, Tarcísio Zanon, nos revelou que ele, o Presidente Marcelo Calil, o diretor de carnaval Alex Fab e o historiador João Gustavo Melo foram exclusivamente ao Terreiro Zoogodô Bogum Malê Rundó, em Salvador, para uma consulta ao jogo de búzios com a Mãe Índia Nadoji, atual sacerdotisa daquela importante casa da Nação Jeje, para pedirem permissão aos Voduns, para colocarem na Avenida o enredo 2024 da Viradouro: ‘Arroboboi, Dangbé!’.
Segundo Zanon, eles estavam em uma sala do Terreiro destinada às consultas aos búzios quando, de repente, Mãe Índia exclamou: “Alafiou! Alafiou!”.
Esse termo ‘alafiou’ é usado no Candomblé como um ‘sim’ das divindades, ou seja, os Voduns autorizaram o uso das informações colhidas nas pesquisas por Zanon para a realização do carnaval na Marquês de Sapucaí.
Ainda segundo Zanon, naquele momento da alafiá, todos os filhos que estavam no Terreiro, também exclamaram ‘alafiou’ junto com Mãe Índia. Foi então que todos se uniram e caminharam até a praça no fim de linha do Bairro do Engenho Velho da Federação, onde está localizado o busto de Mãe Runhó, que dirigiu o Terreiro do Bogum por 50 anos e faleceu em 1975.
Zanon também revela, que além do apoio dos Voduns, outras lideranças da Nação Jeje apoiam o enredo ‘Arroboboi, Dangbé’, como é o caso do Ogan Buda de Bobosa do ƙwé Séja Ɦʊ̀ɲɗe ou Roça do Ventura em Cachoeira-Bahia.
“Todos nós da Viradouro estamos muito felizes, pois além do fundamental apoio dos Voduns, também temos o importante apoio de lideranças da Nação Jeje, como é o caso do Ogan Buda de Bobosa”.
Já com a cronologia do enredo toda elaborada por sua equipe, Tarcísio Zanon revela que a narrativa sobre o Ʋòdʊ́ɲ Dǎɲɠɓɛ́ (a Serpente Sagrada da Nação Jeje) na Avenida será reproduzida pela Escola em cinco setores.
O primeiro chamado de ‘cabeça da escola’ descreve o nascimento do culto ao Ʋòdʊ́ɲ Dǎɲɠɓɛ́ entre os povos de Uidá, na Costa da Mina, após eles travarem uma grande batalha contra o reino vizinho de Aladá. Os relatos contam que Dǎɲɠɓɛ́ atravessou os campos onde estava o exército de Aladá e foi se unir aos guerreiros de Uidá. Então, o grande sacerdote e conselheiro da tropa levantou o animal para que fosse visto pela tropa inimiga, que estarrecida se dobrou diante da serpente. A partir daí, foi consagrada a vitória de Uidá e os vencedores passaram a levar oferendas e a realizar grandiosas caminhadas em direção ao templo erguido para reverenciar a divindade.
Já o segundo setor será das guerreiras mino, as mulheres mais temidas do mundo. Elas eram esposas e guardiãs do palácio do rei do Dahomé, e eximias caçadoras de elefantes. Ao serem recrutadas, elas participavam de um ritual de iniciação conduzido pelas sacerdotisas dos Voduns. Nesse ritual era realizado um pacto de lealdade para que nunca traíssem umas às outras.
O terceiro setor, com a missão de perpetuar os cultos Voduns no Brasil, conta que Ludovina Pessoa atravessou o imenso oceano com a companhia mística dos seus antepassados, para se tornar pilar de Terreiros consagrados aos Voduns. Dentre eles o Seja Hundé e o Terreiro de Bogun, onde foram plantadas sementes de liberdade, e tornaram-se importantes locais de apoio à Revolta dos Malês.
O quarto setor mostra a força das mulheres que se tornaram senhoras da cura, da fortuna, da fertilidade, das adivinhações, dos conselhos e do destino.
E, finalmente, no quinto setor, a Viradouro exalta a Nação Jeje e fala da sua importância na formação do Candomblé na Bahia. Uma grande roda de Loƙo (Vodun-árvore) compõe este setor. Finalizando, com um grande arco-íris, símbolo do Ʋòdʊ́ɲ Dǎɲɠɓɛ́, que mostrará a força e grandeza da maior divindade do povo Jeje.
MÌƙƥá Ʋòdʊ́ɲ Dǎɲɠɓɛ́!
(Salve a Divindade e Serpente Sagrada!)
Àcɛ́! (Axé!)
Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Viradouro
Enredo de 2024: Arroboboi, Dangbé
Composição do samba enredo de: Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno.
Letra:
Eis o poder que rasteja na terra
Luz pra vencer essa guerra, a força do Vodum
Rastro que abençoa agoye
Reza pra renascer, toque de adahum
Lealdade em brasa rubra, fogo em forma de mulher
Um levante à liberdade, divindade em Daomé
Já sangrou um oceano pro seu rito incorporar
Num Brasil mais africano, outra areia, mesmo mar
Ergue a casa de Bogum, atabaque na Bahia
Ya é Gu rainha, herdeira do Candomblé
Centenário fundamento da Costa da Mina
Semente de uma legião de fé
Vive em mim, a irmandade que venceu a dor
A força, herdei de Hundé e da luta mino
Vai serpenteando feito rio ao mar
Arco-íris que no céu vai clarear
Ayî! Que seu veneno seja meu poder
Bessen que corta o amanhecer
Sagrado Gume-kujo
Vodunsis o respeitam, clamam kolofé
E os tambores revelam seu afé
Ê alafiou, ê alafiá! É o ninho da serpente jamais tente afrontar!
Ê alafiou, ê alafiá! É o ninho da serpente preparado pra lutar!
Arroboboi, meu pai! Arroboboi, Dangbé! Destila seu axé na alma e no couro
Derrama nesse chão a sua proteção
Pra vitória da Viradouro!
Histórico e elenco técnico:
Fundação: 24/06/1946
Cores: Vermelha e Branca
Presidentes de Honra: José Carlos Monassa (in memoriam) e Marcelo Calil Petrus
Presidente: Hélio Nunes
Endereço: Quadra Av. do Contorno, 16, Barreto, Niteroi CEP: 24110-205
Barracão Cidade do Samba (Barracão nº 01) - Rua Rivadávia Correa, nº 60 - Gamboa CEP: 20.220-290
site www.unidosdoviradouro.com.br
Imprensa: Simone Fernandes
Enredo 2024: Arroboboi, Dangbé
Carnavalesco: Tarcísio Zanon
Texto: João Gustavo Melo
Diretores de Carnaval: Alex Fab e Dudu Falcão
Intérprete: Wander Pires
Mestre de Bateria: Ciça
Rainha de Bateria: Erika Januza
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Julinho e Rute
Comissão de Frente: Rodrigo Negri e Priscilla Mota
A Unidos do Viradouro vem com: 2 abre-alas, 6 alegorias, 5 setores, 3 tripés e 23 alas.
O desfile da Escola será na segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024.
Foto: divulgação Viradouro
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