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Foto do escritorPaulo de Oxalá

Salve o Samba, herança dos ancestrais


Hoje, 02 de dezembro, celebramos o Dia Nacional do Samba, que é um ritmo amado em todo o mundo. E comprovadamente um dos berços do samba foi na Praça Onze no Rio de Janeiro, mais precisamente no quintal do Terreiro de Candomblé de Tia Ciata da Oxum. A partir dela, outras Tias, como Tia Josefa que também era de Candomblé, tiveram grande participação na propagação do ritmo que de fato representa o nosso Brasil no mundo. Foram elas que levaram as palavras usadas nos rituais afro-religiosos para as escolas de samba. O próprio termo barracão, que passou a designar os galpões que abrigam as fantasias e as alegorias das escolas de samba, foram esses Tias que batizaram. Por sua vez, as quadras que também eram chamadas de terreiros de samba eram dedicadas a um santo católico que tinha relação com um Orixá. Além de propagarem o samba, essas Tias conseguiam amenizar o preconceito e frear a repressão, que existia na época, sobre o Candomblé.


Tia Surica, uma das mais antigas sambistas da Portela, fala sobre essa interação do samba com o Candomblé: “É uma ligação muito forte, pois o samba tem grande contribuição na divulgação do Candomblé. Temos que celebrar essa data, pois o samba traz alegria para o povo!”


André Diniz, professor e um dos grandes compositores de samba-enredo do Rio de Janeiro, fala da importância do som afro nas baterias das Escolas de Samba: “Os toques de Candomblé, viabilizaram a criação de sons únicos nas baterias das Escolas, como por exemplo: o Àgẹ̀rẹ̀ (agueré) de Oxóssi deu o tom de caixa da Mocidade de Padre Miguel. E o àlujá de Xangô deu o ritmo acelerado característico da bateria do Salgueiro. Portanto, é impossível desassociar a origem do samba com o som dos Orixás.”


Mas o samba não conta só com a sabedoria das Tias e de outros profissionais que dedicam a vida pela sua preservação. O samba ainda tem como componente a beleza, o sorriso e o glamour das Rainhas de bateria que representam a vitória das mulheres das comunidades, como é o caso de Bianca Monteiro, Rainha de bateria da Portela, que deu uma entrevista para o blog, não só sobre a importância do samba, mas também sobre o preconceito religioso com as religiões de matriz africana.


Blog: No seu ponto de vista, qual é a contribuição do samba na divulgação das religiões de matriz africana?


Bianca: É uma forma do samba se posicionar e lutar contra o preconceito. A gente consegue através da música, através do samba, através da comunidade e da história do Carnaval mudar esse cenário de intolerância.


Blog: O samba ajuda a amenizar a intolerância religiosa?


Bianca: Eu não sei se eu acredito nisso. A gente vem de uma questão cultural que já está enraizada nas pessoas. O fanatismo piorou e as máscaras caíram mais. Fiz o santo há pouco tempo e sofri muito preconceito na internet, inclusive recebi críticas até de pessoas da própria religião. O samba, por mais que seja a maior manifestação cultural do país, também sofre preconceito, infelizmente.


Blog: Existem muitos sambas que falam de Orixá. Você acha boa essa mesclagem?


Bianca: Orixá é natureza. Se a gente fala de água, por que não falar de Orixá? Com muito respeito e conhecimento, porque sabemos que não é brincadeira, é uma vitória. Tivemos o exemplo da Grande Rio este ano. O Brasil é isso. É a nossa religião, a nossa fé, a mistura. Toda religião é encantadora, basta saber qual é a sua missão e fazer o bem.


Blog: Sua mensagem para esse Dia Nacional do Samba?


Bianca: O samba é minha vida. Quando comemoramos o samba, comemoramos a resistência e a tradição de um povo preto, escravizado que deixou essa herança maravilhosa para nós. Cada ano que se passa mostra que vencemos e resistimos, como a Portela, outras escolas e grandes nomes. É preciso respeitar a nossa cultura e lutar contra o preconceito. Avalia Bianca.


O fato é que o samba é uma importante manifestação popular de raiz africana que nasceu e cresceu em nosso país, tornando-se reconhecido no mundo com as bênçãos dos ancestrais!


Kíkí orílẹ̀ ọjọ́ sẹ̀lù orin! (Salve o Dia Nacional do Samba!)


Axé!

Fotos: internet


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