Renafro denuncia e expõe a escalada da violência religiosa no país
- Paulo de Oxalá

- há 13 minutos
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Foto – Terreiro de Jarê Peji Pedra Branca de Oxóssi destruído em outubro de 2024 - Internet
Pesquisa revela que 74% dos Terreiros em todo o país já sofrerem violência religiosa
Triste para um sacerdote ou uma sacerdotisa de Orixá ver seu templo destruído. Triste para adepto das religiões de matriz africana ter receio de usar branco e seu fio de conta em locais públicos. Triste que as redes sociais se tornem palco de ataques sempre que um conteúdo afro-religioso aparece. Triste que o direito ao sagrado seja constantemente ameaçado. Tudo isso tem um nome. Violência religiosa.
Um novo levantamento nacional confirma uma realidade que já não pode ser ignorada. 7 a cada 10 terreiros relataram ter sofrido agressões que incluem ameaças, depredações e destruição das casas de axé. A pesquisa foi realizada pela Renafro e pelo Ilê Omolu Oxum, com o apoio de instituições públicas e universidades, e reflete o que líderes religiosos denunciam há muitos anos.
Mais de 500 terreiros participaram do estudo e o retrato é assustador. O racismo religioso permanece vivo e forte em todas as regiões do país. A maioria das lideranças afirma ter sofrido insultos, intimidações e até abordagens policiais discriminatórias. Mesmo diante de tanta violência, menos de um terço conseguiu registrar boletim de ocorrência, o que mostra o quanto a justiça ainda falha em proteger essas comunidades.
A violência não se limita às ruas. O ambiente digital se tornou terreno fértil para o ódio. A maior parte dos terreiros com perfis nas redes sociais relata perseguições, ataques organizados e discursos de ódio. Plataformas como Facebook, Instagram, YouTube, TikTok e X são usadas para disseminar intolerância e tentar silenciar tradições ancestrais.
O levantamento também aponta quem mais aparece nos relatos de agressão. A maior parte das ações violentas vem de segmentos evangélicos, além de servidores públicos, vizinhos e usuários das redes. Em muitos casos, a violência é parte de campanhas articuladas por grupos religiosos que, em algumas regiões, agem com apoio de facções criminosas.
Casos recentes mostram a gravidade do cenário. Em Aracaju, o Ìlé Àṣé Ìyá Ọṣún foi invadido, saqueado e profanado. Objetos pessoais e elementos sagrados foram destruídos. Em São Paulo, uma escola pública foi intimidada por homens armados porque uma criança desenhou Yansã. A violência atinge adultos, jovens e até crianças.
Os povos de terreiro preservam saberes ancestrais que moldaram a cultura brasileira. São comunidades que mantêm tradições de cura, conhecimento da natureza, música, dança e espiritualidade transmitida de geração em geração. Proteger essas casas é proteger a identidade do Brasil e impedir que a intolerância apague memórias essenciais à nossa história.
A pesquisa reforça a urgência de políticas públicas mais eficazes, educação para o respeito e punição para quem promove o ódio. As lideranças são firmes ao afirmar que, sem respeito aos modos de vida dos povos tradicionais, não existe democracia verdadeira.
O racismo religioso é crime no Brasil e pode levar a prisão e multa. As denúncias podem ser feitas pelo 190, nas delegacias ou pelo Disque 100. As comunidades seguem resistindo, mas o país precisa decidir se continuará permitindo essa violência ou se finalmente honrará a diversidade ancestral que forma o coração do Brasil.
Vamos lutar contra o racismo e a intolerância religiosa.
Viva a liberdade da fé!
Axé para todos!




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