Que Obaluaiyê interrompa a febre da terra
- Paulo de Oxalá

- há 4 dias
- 3 min de leitura

Foto: Obaluaiyê cuidando da terra - IA-inspirada na visão religiosa de Pai Paulo de Oxalá
Planeta está reagindo ao descaso humano
A Terra é um grande organismo vivo que clama por cuidado e respeito e tem mostrado, cada vez mais, sinais da dor que a acomete. Só não percebe quem escolhe fechar os olhos e insiste em dizer que tudo o que acontece é natural.
Olódùmarè, força suprema que sustenta toda a criação, distribui a cada Orixá o governo de elementos fundamentais para o equilíbrio do mundo que pisamos, respiramos e cultivamos. Quando esse equilíbrio é ferido, a natureza reage como um corpo adoecido. É a febre da terra que se revela em enchentes, derretimento de geleiras, queimadas, ventos violentos e secas que chegam até aos mananciais mais sagrados. É como se a própria Mãe Natureza estivesse implorando socorro.
Obaluaiyê, senhor da cura, dono da terra e guardião dos mistérios que regem o corpo e o tempo, sempre ensinou que toda enfermidade nasce de um desequilíbrio. Quando a humanidade abandona o cuidado com o solo que sustenta, com as águas que alimentam, com as florestas que respiram, o mundo responde em dor. Assistimos a comunidades perderem suas casas, suas lembranças e seus filhos. Vemos a chuva transbordar onde jamais transbordou e o sol rachar terras antes férteis. O planeta manifesta sintomas evidentes de exaustão como um doente que tenta avisar que precisa ser tratado.
Para o povo de santo, natureza e espiritualidade existem em profunda união. As folhas que curam pertencem a Ossaim. A água que limpa e renova pertence a Oxum. O vento que espalha movimento e vida pertence a Yansã. A terra que sustenta nossos corpos e memórias pertence a Obaluaiyê. Quando qualquer uma dessas forças é desrespeitada, não perdemos apenas equilíbrio ambiental. Perdemos equilíbrio espiritual.
O que vivemos não é apenas um fenômeno físico. É um chamado ancestral. Nossos mais velhos sempre ensinaram que a humanidade precisa caminhar com responsabilidade diante da criação. Não adianta repetir que tudo é cíclico se jamais existiram tantas pessoas habitando o planeta e tanto descaso pelo que é sagrado. Os desastres atuais alcançam dimensões que ferem a Terra e também as populações mais vulneráveis, aquelas que mais dependem da terra e da água para sobreviver.
A Terra febril é reflexo do que nos tornamos. Perdemos a escuta, a humildade e o entendimento de que cada árvore derrubada, cada rio contaminado, cada fogo aceso sem necessidade desperta no planeta uma dor que retorna a nós em forma de desequilíbrio. O axé que sobe das matas e corre nos rios enfraquece porque o ser humano tem rompido o pacto ancestral de coexistência.
O que fazer diante de uma natureza que reage? É preciso recuperar o respeito pelo sagrado da terra. É preciso retomar o cuidado com as águas, com o ar, com as folhas e com o solo. É preciso ouvir o silêncio dos biomas que secam e a inquietação dos ventos que carregam poeira onde antes havia verde. Quando cada pessoa entende que a cura começa nos pequenos gestos, Obaluaiyê encontra caminho para acalmar essa febre e restabelecer o axé que sustenta a vida.
O planeta não está apenas quente. O planeta está emitindo um aviso. E nós, filhos do axé, sabemos que aviso não se ignora. Se o mundo está doente, que Obaluaiyê nos ajude a tratá-lo. Que possamos honrar a natureza como templo vivo. Que possamos devolver à Terra o equilíbrio que rompemos. Cuidar da terra é cuidar de nós mesmos. É oferecer à criação o mesmo respeito que oferecemos aos Orixás. É reconhecer que sem essa grande casa que nos acolhe não existe futuro, não existe axé, não existe vida.
Ki olúwa ìgbóná ki o ma jẹ ki ayé ki o jo! (Que o senhor da quentura não deixe a terra arder!)
Axé para todos!




Comentários