Povo de axé na luta e resistência contra a intolerância religiosa
História mostra que data foi criada após denúncias de preconceito e violência
O romance "Tenda dos Milagres" escrito por Jorge Amado em 1969, em plena ditadura militar, tornou-se um best-seller traduzido para mais de dez idiomas e retratava a repressão contra o Candomblé e outras manifestações da cultura afro-brasileira.
Foi no Ilé Àṣẹ Òpó Àfọ̀njá, por meio de Mãe Senhora, que Jorge Amado tornou-se um Ọba de Ṣàngó (Xangô), com o título de Ọba Àròlù (Soberano Conselheiro).
Deputado, em 1946, Jorge Amado foi o principal responsável pela inclusão da emenda constitucional (o inciso 6º do artigo 5º) mantida até hoje, que garante a liberdade de crença e culto no Brasil. Com esse ato, Jorge Amado tornou-se o pioneiro pela luta em defesa da liberdade religiosa em nosso país.
Em Salvador, o primeiro caso a ser reconhecido como intolerância religiosa, com direito a indenização por danos materiais e morais, aconteceu em 1999, quando a foto da Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos, conhecida como Mãe Gilda de Ogum, foi utilizada em uma reportagem publicada no jornal Folha Universal, que pertence a Igreja Universal do Reino de Deus (conhecida pela sigla IURD no Brasil), que criminalizava a atuação de líderes religiosos vinculados ao Candomblé. A relação de sua imagem ao discurso de ódio desencadeou complicações de saúde que levaram a Iyalorixá à morte em 21 de janeiro de 2000. A intolerância, o preconceito e todo o sofrimento de Mãe Gilda motivaram o Governo Federal a instituir em 2007, através da Lei n° 11.635/2007, o dia 21 de janeiro, como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
Já, no Rio de Janeiro, o movimento de intolerância religiosa ganhou destaque quando, no domingo de 16 março de 2008, os Jornais Extra e Expresso denunciaram que traficantes estavam fechando terreiros de Umbanda e Candomblé e expulsando Babalorixás e Yalorixás das comunidades carentes. A matéria foi feita pela jornalista Adriana Diniz que tinha como chamada: "Intolerância religiosa já calou atabaques nas comunidades". Essa matéria foi de enorme repercussão e deu o chute inicial na luta contra a intolerância e o preconceito religioso no Rio, onde os jornais Extra, O Globo e o Expresso passaram a realizar reportagens que denunciavam inúmeros desses casos.
Essas denúncias levaram a Jornalista Clarissa Monteagudo, que era repórter do jornal Extra, a investigar outros tantos casos que chegavam à Redação. Por conta dessas denúncias, eu, Paulo de Oxalá junto com a Mãe Fátima Damas, da Congregação Espírita Umbandista do Brasil-CEUB, reunimos no dia 20 de março, 60 integrantes e importantes dirigentes de terreiros de Umbanda e Candomblé do Estado do Rio de Janeiro. Ali, nascia a semente da CCIR-Comissão de Combate à Intolerância Religiosa. Naquele dia também ficou decidido que faríamos uma manifestação contra esses fatos nas escadarias da Assembleia Legislativa, na Praça XV. O que de fato aconteceu.
Passados anos das denúncias feitas pelos jornais Extra e Expresso, a Comissão de Combate a Intolerância Religiosa e tantas outras Entidades que surgiram vêm realizando um excelente trabalho de combate ao preconceito, racismo e intolerância religiosa.
Temos muito ainda a avançar nessa luta, mas vale reconhecer e parabenizar a todos que lutaram e lutam de forma resistente por esta causa e para uma real igualdade religiosa em nosso país.
Lààyè ìjọra ẹlẹ́sìn! (Viva a igualdade religiosa!)
Axé!
Serviço:
Hoje, às 20h30, o Programa Fantástico da TV GLOBO mostrará casos de violência e intolerância religiosa, mas também de fé, amor e de respeito.
Foto: povo de axé em Brasília - reprodução
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