Porque as divindades femininas são chamadas de Yabás?
- Paulo de Oxalá
- 26 de abr.
- 3 min de leitura

Foto: O poder feminino das Yabás no sábado – IA com matizes e marca d’água de Pai Paulo de Oxalá
Elas comandam valores humanos e aspectos fundamentais da vida
Nas religiões de matriz africana, o termo Yabá — forma aportuguesada da expressão yorùbá Àwọn Àyaba, que significa “Mães Rainhas” — é utilizado para designar as divindades femininas que reinam sobre forças da natureza e aspectos essenciais da vida. No Brasil, o sábado é tradicionalmente consagrado a esses Orixás: Yemọja, Ọ̀ṣun, Yánsàn, Iyewa, Ọbà e Nàná.
Cada uma delas representa não apenas elementos naturais, como água, vento ou barro, mas também valores humanos como maternidade, coragem, transformação, sabedoria e amor. Seu culto está amplamente presente na vida religiosa e cultural do povo brasileiro, sendo celebrado em terreiros, festas populares e até mesmo nas tradições do calendário não oficial.
Yemọja, considerada a mãe de grande parte dos Orixás, é associada à família e às águas salgadas. Embora, na África, seu culto esteja ligado a rios, no Brasil ela reina sobre o mar e é amplamente reverenciada no litoral como a grande mãe e símbolo de equilíbrio emocional. Suas oferendas são comuns nas praias no dia 2 de fevereiro, no Réveillon e também aos sábados.
Ọ̀ṣun, ligada às águas doces, à fertilidade, à gestação, à sensualidade e à prosperidade, é uma das divindades mais cultuadas da tradição yorubá. Seu culto é marcado por elementos dourados e flores amarelas. No Brasil, tornou-se também um símbolo da força feminina negra, associada à resistência, ao amor e ao cuidado maternal.
Yánsàn ou Ọya, é o Orixá dos ventos, dos raios e das tempestades. Representa a coragem, a transformação e o movimento. Ela é a divindade guerreira e guardiã dos espíritos dos mortos, com presença marcante nos rituais de culto aos ancestrais. Embora seu dia litúrgico seja a quarta-feira, ela também é homenageada aos sábados.
Iyewa, por sua vez, rege as transformações sutis e está associada à beleza, ao encanto e à alegria da vida. Ela simboliza o desabrochar, o silêncio fértil, a introspecção e o recolhimento que antecede a cura. Apesar de exuberante, preserva uma essência única e reservada, como uma estrela que brilha sozinha no céu.
Ọbà é lembrada como símbolo de amor dedicado e superação das dores afetivas. Foi uma das esposas de Xangô na mitologia yorùbá e, no Brasil, é cultuada como exemplo de fidelidade, sacrifício e renascimento. Sua trajetória inspira especialmente as mulheres em processos de fortalecimento e reconquista de autoestima.
Nàná, uma das mais antigas divindades do panteão africano, é senhora do barro, das águas lamacentas e da sabedoria ancestral. Seu culto no Brasil é fortemente ligado à ancestralidade e aos ciclos da vida e da morte.
Juntas, essas divindades representam diferentes expressões do sagrado feminino. O sábado, consagrado a elas, é considerado um dia de poder, em que terreiros realizam rituais, cantos, danças e oferendas para honrar sua presença. Em muitos Terreiros, esse é o momento reservado para homenagens e louvores, reafirmando o papel central das Yabás no culto aos Orixás.
Kíkí Ọjọ́ àbémẹ́ta agbára obìrin aya! Kíkí àwọn Àyaba!
(Salve o sábado, dia do poder feminino! Salve as Mãe Rainhas!)
Curiosidade linguística:
A palavra Òrìṣà, que deu origem ao termo “Orixá” em português, é um substantivo de gênero masculino na língua yorùbá. Por isso, mesmo quando se refere a divindades femininas, como Ọ̀ṣun ou Yemọja, o correto é dizer “o Orixá” — e não “a Orixá”.
Axé para todos!
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