Por que é dito que sem folha não há Orixá
Foto: sem folha não há Orixá – arte Pai Paulo de Oxalá
Saiba sobre o poder das ervas no Candomblé e na vida.
Como diz o ditado no Candomblé: Kò sí ewé, kò sí Òrìṣà! Isso significa que, sem as folhas, não há Orixás, pois elas são os elementos condutores do axé, a força vital que move o universo.
Os banhos de ervas, por exemplo, são usados para purificação, equilíbrio energético e fortalecimento espiritual. Cada erva carrega um propósito único: umas limpam, outras energizam, e há aquelas que conectam diretamente aos Orixás e à natureza, removendo cargas negativas e abrindo caminhos para novas realizações.
Mas será que banhos de ervas substituem os àwọn ẹbọ (ebós)?
Não. Os banhos atuam no campo energético, trazendo alívio e fortalecimento, mas os ebós vão além. Eles são rituais completos que envolvem oferendas e ações simbólicas para resolver questões mais profundas, dialogando diretamente com os Orixás para restaurar equilíbrios e abrir novos caminhos. Cada prática tem seu papel essencial e complementar, mas nenhuma substitui a outra.
E como saber qual banho tomar? Não é o jogo que determina?
Sim. No Candomblé, nada se faz sem a orientação do jogo de búzios. É o jogo que determina o banho certo. Nem toda erva serve para todos, e o uso inadequado pode até trazer efeitos indesejados. O jogo revela quais forças estão em desequilíbrio e indica as ervas adequadas, alinhando o trabalho espiritual às necessidades individuais. No entanto, existem banhos de uso emergencial que todos podem tomar, como o banho de rosas brancas ou de outras ervas. O banho de rosas brancas é suave, harmonizador e pode ser utilizado até em bebês, trazendo calma e serenidade.
Porém, mesmo nesses casos, é fundamental buscar a orientação de um Bàbálórìṣà (Babalorixá) ou Ìyálórìṣà (Yalorixá), pois eles possuem o conhecimento necessário para assegurar que o banho seja realizado com o propósito correto e de maneira segura.
Além disso, é importante lembrar que, no Candomblé, cada pessoa carrega suas próprias energias regidas por seus àwọn Òrìṣà (Orixás), o que torna a consulta ao jogo de búzios essencial para garantir que o banho esteja em sintonia com o momento espiritual e energético de quem o utiliza.
A força de Ọ̀sányìn (Ossaim), o dono de todas as folhas
Ọ̀sányìn (Ossaim) é chamado de Bàbá ewé (Pai das folhas), pois conhece cada folha, seu poder e sua finalidade. Ele está presente nos chás que curam, nos banhos que energizam e nos remédios naturais que encantam. Quem nunca usou um "chazinho da vovó"? Assim como os remédios, os banhos e chás de ervas devem ser usados com consciência, pois são dádivas de Ọ̀sányìn, capazes de nos trazer equilíbrio e saúde.
Para exemplificar, deixo aqui algumas dicas práticas:
Do tempo da vovó, o conhecidíssimo chazinho de erva-doce (ewé dídùn, de Oxum e Ibéjì): calmante, expectorante e ótimo para cólicas intestinais.
O tradicional banho de saião (Ọ̀dúndún), uma erva de Oxalá, e outros Orixás): bastante usado no Candomblé para saúde e levantar o astral. Mentalize sua vitória e paz ao prepará-lo.
Você também deve saber que nem todas as ervas são usadas da cabeça aos pés. Algumas são frias (òtútù) e trazem calma; outras são quentes (gbóná) e ativam nossa energia. Além disso, ervas secas ou frescas podem ser usadas, dependendo da preparação: maceradas ou quinadas, em infusão ou cozidas.
O uso do sal grosso
E quanto ao sal grosso? Na Umbanda, é recomendado em alguns banhos. No Candomblé, Ìyò (sal) está associado a Oxalá e usado apenas com orientação específica.
Ah, e não esquecemos dos nossos amigos de quatro patas! Para proteger seu cãozinho de inveja, você pode preparar um banho com saião, aplicando nas patinhas. Depois, limpe com um pano branco (morim) e descarte-o longe de casa.
Por fim, lembre-se: após um banho de ervas ou descarrego, é natural sentir-se relaxado ou com sono, pois seu corpo está processando a renovação energética. Use roupas brancas para reforçar a vibração de paz e purificação.
Espero que tenha ajudado a entender um pouco sobre as valiosas energias das folhas, pois eu sempre digo: Kò sí ewé, kò sí Òrìṣà! E mais: sem folhas, não há vida, nem saúde.
Ewé ò asà!
Axé para todos!
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