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  • Foto do escritorPaulo de Oxalá

Pai Fomo de Oxalá fala sobre a origem do Omoloko e da Umbanda


Segundo Pai Fomo de Oxalá, um dos pilares da Umbanda é o culto Omoloko.


O Omoloko é um culto que reuni ritos e simbologia yorubá (nagô), sincretizado com santos católicos, reunindo também diversas etnias africanas. Muitos

dos seus cânticos são em português, junto com outras línguas afros, mas com destaque para o idioma Kimbundo.


A contribuição dos povos sudanêses em particular dos Jejes (Fon; Adja) foram valiosíssimas para definir os dogmas da Umbanda, como por exemplo: o ato de desenhar, traçar o risco ou ponto riscado tem origem no rito do ‘Vèvè’ de Vòdún (divindade jeje), onde cada desenho representa um Vòdún ou ancestral. Através do ‘Vèvè’ são realizadas inúmeras oferendas em ocasiões específicas. O ‘Vèvè’ não foi adotado nos Candomblés Jeje Mahin, mas nos Terreiros de Jeje Dahomé esse rito se mantém.


Na África, o ‘Vèvè’ ainda é praticado pelos sacerdotes de Vòdún, no Benin, Togo, Ghana, República do Congo e Costa do Marfim. Além do Vodunon

O amasìn (amaci) que aqui no Brasil, se tornou um ritual umbandista, é uma prática de origem jeje, não só como rito religioso, mas também como medicamento, quando preparado para esta finalidade, com as folhas ou ervas adequadas.


Sinda, uma divindade de origem Jeje integrada ao culto de Omoloko, foi relacionada a Oxum, e recebeu o carinhoso codinome de ‘Mamãe Sinda’. Essa denominação vem do fon: sín-água, dàn-serpente, que também passou a chamar-se: Mamãe Sinda da cobra coral, por ter sido sincretizada com N. Sra. da Penha. E certamente pela influência da imagem da santa católica, que tem uma serpente aos seus pés, é chamada de Oxum da Cobra Coral, sendo na realidade um vodún feminino, uma ninfa, metade serpente, metade mulher, uma Mami Wata.


O poema a seguir, comprova que antigos terreiros de Umbanda preservando a reverência a esta divindade entoavam um cântico com as seguintes frases:

“Mamãe Sinda como é linda,

Mamãe Sinda, Mamãe Sindá!

Mamãe Sinda vem n’Umbanda,

Mamãe Sinda da Cobra Corá!”


Outros atributos Jeje são usados em terreiros de Umbanda até os dias de hoje, como os fios de contas (guias) de contas maiores. Ainda na forma de amarrar o pano de cabeça, na roupagem tradicional e simples, que para muitos, lembra a época antiga dos antigos Candomblés de Jeje Dahomé


A expressão ‘Omoloko’ que intitula o Culto, deriva da junção de duas palavras, da língua yorùbá, havendo consenso sobre Ọmọ (filho), mas divergências quanto ao outro radical, seja quanto ao nome em si, seja quanto ao seu real significado. Na versão do Tata Gilberto de Oxóssi (Odé Karofagi), o culto Omoloko é uma pratica religiosa, originária do povo da Região de Lunda (leste de Angola) denominado kioko, povo de feição nitidamente expansionista, que passaram a habitar as regiões situadas nas nascentes de dois grandes rios (Kaungo e Kasai).

A palavra Omoloko tem origem nas etnias regionais: mussurumim, lunda e kioko. Todos esses povos professam tradição religiosa bantu e realizam culto ao reino animal (kiama), mineral (kia-mina) e vegetal (kirimu).


De acordo com a versão de Tancredo da Silva Pinto, Tatá Ia Nkisi, pai-de-santo de Candomblé Angola, constante do livro Culto Omoloko - Os Filhos do Terreiro, de Ornato José da Silva, os radicais seriam Ọmọ: filho, e Oko: sítio, fazenda, plantação que naturalmente ficam em zonas rurais, onde o Omoloko, por conta da repressão policial da época, realiza seus ritos por antigos africanos originários de Luanda e Kioko.


O Omoloko também está ligado ao culto do Orixá Oko (O senhor da agricultura), que era feito nas noites de lua nova pelos plantadores de inhame. Daí veio o termo ‘terreiro’ ou ‘roça’ para definir o local de culto Omoloko.


Há práticas rituais e de culto aos Orixás, com assentamentos similares aos do Candomblé, e aos caboclos e pretos-velhos, que também são cultuados na Umbanda.

O Omoloko é considerado por estudiosos e praticantes como um dos principais influenciadores na formação da Umbanda africanizada, ao lado do Candomblé de Caboclo, do Cabula e do próprio Candomblé de Nação.


Tendo ritualísticas próprias, o Omoloko teve como seu mais expressivo representante, ainda que com forte influência umbandista, o saudoso Tata Tancredo da Silva Pinto, que trabalhou nos Correios e foi morador do Morro de São Carlos. Ele foi um grande estudioso de cultura afro, colunista e escritor de livros.


A filha de escravos Léa Maria Fonseca da Costa, entretanto, preservou o Omoloko dissociado da Umbanda, conforme consta da obra de Ornato José da Silva já citada.

Há relatos de que o Omoloko teria sido instituído no Rio de Janeiro por Maria Batayo, uma escrava nascida na África em 1797.


A diáspora dos Orixás cultuados no Omoloko é a mesma utilizada pelo Candomblé, e sua organização dogmática o faz diferir também por isso da Umbanda, que os cultua em número menor e de forma majoritariamente sincrética.


É um equívoco definir o Omoloko como uma mistura de Umbanda e Candomblé, pois um dos esclarecimentos revelam que o termo Omoloko está ligado aos locôs, que eram governados pelo rei Farma, no sertão de Serra Leoa. Sua cidade chamava-se Locojá e se localizava à margem do Rio Mitombo, afluente do rio Benué, que por sua vez é afluente do grande rio Níger. Locojá ficava próxima do reino yorubá.


O povo locô também era conhecido pelos nomes de lagos, lândogo e sossô. O nome locô foi primeiramente registrado em 1606. Também há registro desse povo com o nome de loguro. A tribo locô era dividida em outras menores ao longo dos rios Mitombo, Benué e Níger e no litoral de Serra Leoa. Em 1664, o filho do rei Farma foi batizado com o nome de D. Felipe. Torna-se claro que o sincretismo afro-católico já acontecia na África antes da vinda dos africanos ao Brasil. Acredita-se que a tribo locô pertencia a um grupo maior chamado Mane e que alguns de seus integrantes vieram escravizados para o Brasil e formaram o Omoloko.


Os povos Mane tinham por costume usar flechas envenenadas e arcos curtos, espadas curtas e largas, azagaias, dardos e facas, que traziam amarrados embaixo do braço. Para combater o veneno de suas flechas, em caso de acidente, usavam uma bolsinha com um antídoto. Avisavam os seu inimigos o dia em que iriam atacá-los através de palhas - tantas palhas, tantos dias para o ataque. Traziam no braço e nas pernas correntes de ouro e prata. Também eram ligados aos brancos que invadiram a África Negra. Adoravam assentamentos de deuses e ídolos de madeira, os quais representavam homem e animais. Quando não venciam as guerras, açoitavam os ídolos. Se as batalhas eram vencidas, ofereciam aos deuses comidas e bebidas. Chamavam as mulheres de cabondos e tinham como marca a ausência de dois dentes da frente.


Ainda que haja dúvidas sobre o papel de Maria Batayo na instauração do Omoloko, estudiosos confirmam seu início no Rio de Janeiro, no século XIX, a partir do conhecimento trazido por negros vindos da África e seus descendentes, tendo sofrido influência de diversas vertentes religiosas, predominantemente o culto aos Orixás e aos Nkisis, o que tornou peculiar a sua forma cultual, que manteve a cosmologia de cada origem, acrescida ainda de rituais religiosos contemporâneos, como o Espiritismo francês.


Ìbùkún ti àwọn àgbagbà Àfìrìká ti Brazil!

(Benção aos ancestrais africanos do Brasil!)

Axé!


Pai Fomo de Oxalá dirige o Kwe Esìn Lissá em Rio Das Ostras/R.J, e um estudioso da cultura africana.


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