Homenagem a trajetória do Doté Luiz de Jàgún
Luiz Alvaro Soares de Souza nasceu em 24 de fevereiro de 1947 na cidade do Rio de Janeiro, em uma família de descendência portuguesa. Seus pais; Sr. Manuel Avelino Gonçalves de Souza e D. Alda Soares de Souza, o criaram dentro dos sacramentos do catolicismo. Por conta disso, passou a ser devoto de São Bento, viajou a Portugal e visitou a basílica deste santo. Segundo ele em depoimento para o Museu da Imagem e do Som em 1995, nesta igreja, ele que era menino ainda, tocou com suas mãos a sepultura de São Bento. Fato que o marcou muito espiritualmente.
Luiz serviu o exército e a após a baixa militar, trabalhou na administração do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, na Rua do Riachuelo no Centro do Rio.
No depoimento, ele relatou que costumava ter visões e sonhos reveladores, o que demonstrava sinais da sua mediunidade.
Certa vez ainda jovem, ficou muito doente e não encontrando resposta na medicina, foi levado a um Terreiro de Umbanda, onde encontrou alívio para seu sofrimento.
Depois desse fato, seus guias espirituais se manifestaram e lhe ordenaram que abrisse um Terreiro de Umbanda. Luiz então obedecendo a esta ordem, inaugurou seu Terreiro na Rua Coimbra no Bairro da Penha.
Devido a inúmeras bênçãos através do Exu da Pedra e do Caboclo Lua Alta, sua fama cresceu e seu Terreiro passou a reunir dezenas de fiéis e clientes.
Mas Olódùmarè, já tinha traçado a grande missão de Luiz Alvaro, e Jàgún, o guerreiro branco o conduziu a iniciação no Candomblé. O que aconteceu através das mãos do Doté Zezinho da Boa Viagem da Nação Jeje Mahin, em 18 de maio de 1974.
Com Pai Zezinho, Luiz Alvaro tomou todas as suas obrigações e passou a ser chamado de Doté Luiz de Jàgún.
Ainda no Terreiro da Penha, Doté Luiz de Jàgún tirou seu primeiro barco de Vodun, sendo o Hungbono Humberto de Oxóssi.
A seguir, ele adquire um sítio no Bairro de Santíssimo e funda o Kwe Sejá lojí, chamado por ele de Ilé de São Bento, no qual iniciou muitos filhos de santo, dentre eles o saudoso Doté Celso de Ògún de Rocha Miranda.
Pai Luiz sempre foi ladeado por muitos amigos, mas o Doté Baby de Yemanjá sempre foi muito presente em sua vida.
Outros amigos, sacerdotes e comunicadores também o apoiavam na sua trajetória no Rádio. Dentre eles destacamos: os saudosos Babalorixás: Oyá Gindê, Marco de Oyá, Ògún Jóbí, Joaquim Motta, Guilherme de Ògún e Marcos Penna de Obaluaiyê.
Também lembramos os amigos, Tata Sajemi, Paulo Guerreiro de Oxalá (Pai Paulo de Oxalá), Professor José Beniste, Doté Antônio de Amaralina, Babalorixá Flávio Costa e o Antropólogo Raul Lody.
Sempre inovador e a frente do seu tempo, Luiz de Jagun escreveu livros e se destacou como comunicador. O seu programa de Rádio, ‘O Despertar do Candomblé’ na Rádio Tamoio AM 900 kHz, era líder de audiência e mantinha quadros inesquecíveis como:
‘A Xica xoxa’: Sátira rasgada de momentos do Candomblé.
‘Como vai você?’: Aqui, Pai Luiz saudava os amigos e conhecidos.
‘Volante de Jagun’: entrevistas feitas por Paulo Guerreiro de Oxalá.
‘Procura-se!’: Pai Luiz lembrava de sacerdotes e adeptos que não estavam em evidência.
‘Na boca do atabaque grande’: Era uma sátira mais comedida do que a Xica.
‘No tempo da antiga’: Pai Luiz falava de ensinamentos de forma comparativa.
‘Folheando as páginas de um livro chamado axé’: Ele falava de líderes religiosos e axés da época.
Oração da natureza: prece que encerrava o programa.
O Programa tinha também bordões memoráveis como:
Psiu! Oh menina! Me chama o Machado!
Via Éter para todo o Brasil!
Tá ou não tá? Tá na Tamoio com o ‘Programa O Despertar do Candomblé’.
Àfẹ́ èmi! Eu sou amado!
Sou Jeje Mahin, mais louvo a bandeira do Nagô-Vodun.
Tá boa??? Taboa é palha da esteira.
Cadê a Dofona?
O Despertar do Candomblé começava as 00:00h de segunda-feira e terminava às 02:00h. A seguir, ele apresentava um Programa musical chamado: Como se Fosse Dia com Luiz Soares.
Doté Luiz também produzia um evento denominado: ‘Os Melhores do Candomblé’ no qual homenageava personalidades da religião e lotava grandes casas de espetáculo do Rio de Janeiro da época como: “Scalla” e "Imperator".
Foi diretor e produtor da LMJ Produções e Promoções LTDA. Na qual produziu um documentário cultural afro chamado “O encanto dos Orixás” Lançado em livro e vídeo.
Lançou também os livros: Axexê, preparação para o outro lado da vida e O Encanto, Aborós-Orixás Masculinos, Adié Odo.
Em 1992, o Doté Luiz foi tema da escola de samba Mocidade de Vasconcelos com o enredo “Quem é ele? Ele é, ele é Luiz de Jàgún”, enredo que deu vitória a escola naquele ano.
Uma das festas mais concorridas do Candomblé carioca foi quando Pai Luiz de Jàgún completou 21 anos de santo em 1994. Na ocasião centenas de amigos lotaram o Ilé de São Bento e suas dependências, causando um grande engarrafamento na Av. Brasil. Nesta festa seus convidados puderam pela primeira vez, aguardar o início de uma cerimônia religiosa, ouvindo músicas suaves executadas por uma organista e uma violinista.
No dia 11 de julho de 1995, Doté Luiz foi convidado pelo governo federal a imortalizar sua voz no MIS-Museu da Imagem e do Som, na época com sede na Praça XV no Rio.
Em 14 de novembro de 1995, Doté Luiz de Jàgún reuniu na Avenida Rio Branco, centenas de adeptos do Candomblé e Umbanda para protestarem contra um pastor da Igreja Universal que havia chutado uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Em 1996 Doté Luiz se candidatou para vereador do RJ pelo partido PMN sob registro 33.666.
No apogeu de sua carreira, no dia 19 de fevereiro de 1997, faltando apenas cinco dias para a comemoração de seu cinquentenário com uma grande festa, Doté Luiz veio a falecer, vítima de uma embolia pulmonar. Sua morte inesperada foi uma verdadeira catástrofe, que provocou uma grande comoção entre os adeptos das religiões afro. Seu funeral foi acompanhado por muitas centenas de pessoas, que em carreatas, seguiram o corpo desde o Terreiro em Santíssimo, até o Cemitério do Caju, no jazigo da família de registro 15.535.
Após seu falecimento, o Ilé de São Bento ficou sob a direção de sua irmã carnal Fatima de Oxaguian, que também nos deixou em 2018.
Luiz de Jàgún entrou para a história do Candomblé, como um dos mais notáveis sacerdotes desta religião. Sua força como comunicador era incontestável. E para contar mais detalhes sobre a história de Pai Luiz, o Babalorixá Flávio Costa presta nesta quinta-feira, 10 de fevereiro uma homenagem ao Doté Luiz em forma de live que será feita em duas edições, com vários amigos que conviveram com o Doté Luiz de Jàgún. Com certeza vale conferir!
Ọkùnrin ḿbẹ wà láí ní wo ìwà! (O homem é eternizado por suas qualidades!)
Axé!
Para acompanhar a live acessem:
Fontes: Depoimento do Museu da Imagem e do Som/ Facebook Doté Luiz d'Jagun/ Flávio Costa e Gaipe Mauro de Odé
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