Formosa, a gata talismã de Maria Padilha
Foto: Maria Padilha das 7 Encruzilhadas e sua gata Formosa – arte Pai Paulo de Oxalá
A encantadora felina anunciava a majestosa Dama
Nos anos 80, quando eu, Paulo de Oxalá, morava em Mesquita, na Baixada Fluminense, tive uma amiga chamada Bárbara, filha de Yansã e iniciada no Candomblé da Nação Kétu. Bárbara, infelizmente, nos deixou em 1996, mas suas histórias e sua ligação com a espiritualidade ainda ecoam na minha memória. Ela era filha da finada Nanburujan e já havia cumprido sua obrigação de 7 anos, com o direito de abrir seu próprio Terreiro. Porém, como boa filha de Yansã, só fazia o que realmente queria, e abrir uma casa não estava em seus planos. Yansã, com sua sabedoria, não a pressionava. Mas quem exigia trabalho era outra força poderosa: Maria Padilha das 7 Encruzilhadas.
Com a autoridade de quem comanda, Maria Padilha queria que Bárbara trabalhasse dando consultas, incorporada com ela. E, como diz o ditado: "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Bárbara, que já havia recebido muitos bênçãos de Padilha – marido, casa e muito mais – desde antes de sua iniciação no Candomblé, não ousaria contrariá-la.
A casa de Bárbara tinha um quintal enorme, e lá nos fundos havia uma casinha que ela usava para receber amigos. Foi esse o local escolhido por Padilha para seus atendimentos. A sala virou sala de espera, e o quarto principal, o espaço sagrado de Maria Padilha.
Foi logo no início dessas consultas que uma mulher presenteou Bárbara com uma gata preta, que Padilha batizou de Formosa. E Formosa, ah, essa gata não era comum. Ela comia carne picadinha mal passada com cebola e adorava se lambuzar na champanhe que Padilha lhe oferecia em uma grande taça. Era sempre às quartas-feiras que Bárbara atendia, e antes de Maria Padilha chegar, Formosa anunciava sua chegada: se espreguiçava, ronronava e se esfregava nas pernas de Bárbara. Quando Padilha finalmente vinha, a gata se deitava aos pés de sua imagem e só se levantava depois do último cliente da noite, que sempre ia embora tarde.
Muitas histórias cercam Formosa. Uma delas envolve um homem que veio até Bárbara para pedir mal a outro. Como de costume, Formosa estava deitada, calma. Porém, ao sentir a energia daquele homem, ela se transformou: rosnava, arrepiada, com olhos que pareciam bolas de fogo. Padilha se recusou a fazer o que o homem queria, e ele, apavorado, saiu dali correndo, quase atacado por Formosa.
Em outro momento, uma jovem recém-casada, que tentava engravidar há tempos, se consultou com Padilha. Durante a conversa, Formosa, como que por encanto, pulou no colo da moça, confirmando o que Padilha já havia dito: ela engravidaria de uma menina. Pouco tempo depois, o aviso se cumpriu.
Saudades da minha amiga Bárbara e da incrível Formosa, aquela que foi mais que uma gata: uma guardiã, uma amiga, um verdadeiro talismã de Maria Padilha das 7 Encruzilhadas. Sua história nos lembra que os animais possuem uma conexão profunda com Orixás, Entidades e Ancestrais, sempre nos alertando sobre sinais e presenças espirituais.
Axé para todos!
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