Exclusivo: A polivalência de Lógun Ẹ̀dẹ em Jesus Luz
- Paulo de Oxalá
- 13 de fev.
- 6 min de leitura

Fotos: Jesus Luz - Ọ̀tún Ṣàngó – arquivo Jesus Luz
Modelo se diz honrado em ter o cargo de Ọ̀tún Ṣàngó
Além de pescar e caçar, Lógun Ẹ̀dẹ também conhece os encantos das matas, sendo um Orixá polivalente. Essa polivalência de Lógun é um marco nas características dos seus filhos, como é o caso do carioca, modelo e DJ Jesus Luz, que já participou do famoso réveillon de Miami e fez turnê em eventos pelos Estados Unidos.
Mesmo tendo uma agenda intensa, Jesus sempre dedica um tempo para se conectar com o sagrado. Como Lógun Ẹ̀dẹ, seu Orixá de Orí (cabeça), Jesus gosta de ser o provedor, aquele que promove o bem-estar para todos, e em especial para a família.
Em um bate-papo exclusivo e descontraído aqui para o blog, Jesus fala da sua fé e conexão com os Orixás.
Como e quando você conheceu o Candomblé? Sua conexão com a religião aconteceu ainda na infância ou surgiu após a fama?
Jesus: Eu tive a primeira experiência com as religiões de matriz africana há muitos anos, mas não mergulhei de cabeça. Conheci outras religiões dos meus 15 aos meus 38 anos, e conheci muita coisa. Finalmente, cheguei no Candomblé e no Candomblé raiz. Eu sempre tive muita conexão com religiões. Fui criado por uma família que tem um lado evangélico muito forte. Também conheci Raja Yoga. Na casa da minha tia, tinha reuniões. Então, eu via as pessoas meditando. Era aquela coisa totalmente diferente que o brasileiro na época não estava muito acostumado, né? Pelo menos no meu ciclo social, não. Desde novo, tive muitas experiências enriquecedoras em relação à espiritualidade, através das pessoas da minha família.
Quais são os seus Orixás e como você sente a influência deles no seu caminho?
Jesus: Eu sou de Lógun Ẹ̀dẹ, mas tenho uma conexão muito forte com Exu.
Você ocupa o cargo de Ọ̀tún Ṣàngó no Terreiro. Pode nos contar um pouco sobre a importância desse posto e suas responsabilidades?
Jesus: Ọ̀tún Ṣàngó quer dizer ‘à direita do rei’. Então, é um cargo que me trouxe muita honra, muita satisfação pessoal. Uma responsabilidade realmente muito grande, mas muito natural, pois amo intensamente o Candomblé, seus rituais, e amo também estar com Xangô no Ilé.
Além do Terreiro, você mantém um espaço sagrado em casa para seus Orixás? Como é essa relação no seu dia a dia?
Jesus: Não, em casa eu não tenho espaço dedicado aos Orixás. Meu espaço sagrado é o Ilé. No dia a dia, me conecto de várias maneiras com o sagrado, até porque existem muitas formas de se conectar com os Orixás, com Deus, com a espiritualidade, com a sua ancestralidade. Então, estou sempre buscando essa conexão, pois meu trabalho é muito intenso. Às vezes eu não durmo, viajo muito, então preciso desse norte espiritual. Nem sempre minha cabeça pode descansar, né? Eu viro, às vezes, sexta, sábado e domingo. Fico bem cansado. Isso tudo afeta a gente, mas, principalmente, o corpo físico. Então, tento buscar sempre no espiritual essa força que não tem como descrever. Gosto de fazer aquele "download" do corpo espiritual para o corpo físico.
Diante dos desafios da intolerância religiosa contra as tradições de matriz africana, como você enxerga essa questão? Como é a sua relação, você sendo de Orixá, com sua esposa e sua filha Malena?
Jesus: Em relação à intolerância, vou ser bem sincero, já imaginava. Me senti no dever de ser transparente com meu público, né? Óbvio que foi uma coisa que foi nascendo em mim. Fui rompendo barreiras de preconceitos colocadas também em mim e que também não culpo ninguém. Não culpo minha família e não culpo a sociedade. Graças a Deus e aos Orixás, eu tenho a mente muito aberta, muito livre. Hoje, me sinto usado pela espiritualidade para abrir também a mente das pessoas. Minha filha, minha mãe, minha noiva, minha ex-mulher, que é quem frequenta a igreja com minha filha, todos respeitaram e abraçaram minha escolha. Mesmo as pessoas com um certo nível de fanatismo na minha família me respeitam. Então, me senti muito acolhido. Enfim, eu sei que, às vezes, para algumas pessoas, é mais difícil do que para outras, mas é importante que essas pessoas também tenham oportunidade de romper esses preconceitos, romper essas barreiras e sair da escuridão da ignorância.
Eu venho acompanhando os comentários nos meus posts ligados ao Candomblé, e vejo que a grande maioria das pessoas, inclusive pessoas de outras religiões, pessoas evangélicas, pessoas católicas, tem muita, muita tolerância, sim. Estão defendendo os posts, estão ensinando aos irmãos de suas linhas. Como, por exemplo, têm católicos ensinando católicos, evangélicos ensinando evangélicos, que essa não é a forma de lidar, que tem que se pregar o amor e que a intolerância não é o caminho. Agora, tem muita discussão, mas se medirmos de forma positiva, o canal serve para as pessoas quebrarem esse preconceito.
Sua trajetória é marcada por versatilidade: modelo, DJ, ator, com passagens por eventos icônicos como o réveillon de Miami e turnês internacionais. Com essa rotina intensa, como você equilibra sua vida profissional com o cuidado e a devoção aos Orixás?
Jesus: Eu acredito que nada é por acaso. Você vê até a questão do meu nome, né? E meu nome não é artístico, né? Meu nome é Jesus Pinto da Luz. E o fato de eu ter esse nome, e está no Candomblé, já passa uma mensagem muito forte para as pessoas. Já mexe com o inconsciente, e consciente. Mas calma aí, um cara com esse nome? Como assim? Já cria um certo tipo de questionamento das pessoas. Quando abre uma matéria para ler, aí vem o nome de Jesus, ligado ao Candomblé. Eu acredito que isso é um plano espiritual. Eu tenho essa cabeça que gosta de criar propósito nas coisas. E quando eu identifico realmente que existe um propósito, valorizo muito, porque a vida tem muitos mistérios e a gente tem que saber deixar fluir e decifrar esses mistérios. Acho que o alimento do nosso entusiasmo é a gente enxergar a vida com o grande mistério que ela é. Como falei, a gente tem que estar conectado internamente com Deus, com os Orixás e com a gente mesmo. Eu também tenho essa conexão bem forte com o meu Babalorixá. Estou sempre alinhado com os ensinamentos dele, através da mente, da fé, do coração. Mesmo com essa minha vida intensa e corrida, como agora, estou aqui em Nova York, e já estou indo para Goiânia, não vou nem passar em casa. Minha vida realmente é corrida. E depois de Goiânia, já tenho compromisso com ensaio de uma escola de samba. Então, assim, tudo muito corrido. Mas dou muito valor a tudo isso. Sou capricorniano, gosto de trabalhar. Então, não reclamo de trabalho, só agradeço por esse equilíbrio, que com certeza, independente do lugar que eu esteja, ele está comigo. É óbvio que estar no Ilé é especial, é um privilégio poder cultuar meus Orixás e estar com meu pai de santo.
Para encerrar, fale um pouco sobre sua relação com os Orixás. Como era Jesus Luz antes e depois do Orixá? Deixe uma mensagem especial para os leitores do Extra Online.
Jesus: Eu gostaria de falar muitas coisas, como sempre digo: o melhor olhar é o de quem está em volta da gente, de quem ama a gente. É sincero, né? Nós temos o nosso autoconhecimento, nossa busca. Então, o olhar das pessoas à minha volta me ajuda muito a me enxergar também. Ver a minha noiva, minha mãe e todas as pessoas dizerem que estou mais calmo, mais humano, mais espiritualizado, é maravilhoso. Isso tudo aconteceu depois que me iniciei no Candomblé, depois que investi mesmo na minha vida espiritual. Atualmente, tenho mais foco, mais paciência. Eu me tornei ainda mais conectado com minha família. Estou mais calmo e maduro, através da espiritualidade.
Deixo aqui minha mensagem de amor para todos os leitores do Extra Online. Que os Orixás abençoem a vida de vocês com muita luz. Que possamos evoluir juntos nessa jornada de quebrar preconceitos e evoluir como sociedade. Um beijo muito grande e obrigado pelo apoio e pelo carinho. Quem estiver lendo aqui, sinta-se amado e abraçado. Um beijo grande para todos, com muito sucesso, saúde e prosperidade. Obrigado, Pai Paulo, pela oportunidade. Que Oxalá lhe cubra com prosperidade e saúde, e o ilumine, para sempre levar um conteúdo puro, verdadeiro e forte.
Jesus Luz é Ọmọ Òrìṣà (filho de santo) do Bàbálórìṣà Igor de Ṣàngó, dirigente do Ilé Àṣẹ Ṣàngólónílé.
Axé para todos!
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