A inquestionável influência africana no sagrado e no cotidiano do Brasil
- Paulo de Oxalá
- 19 de mar.
- 2 min de leitura

Foto: a cultura africana no Brasil – Pai Paulo de Oxalá
A força e o valor da nossa herança africana
A história do Brasil não pode ser contada sem a presença marcante dos povos africanos, que trouxeram consigo não apenas sua força de trabalho forçada, mas também seus saberes, crenças, culinária, música e visão de mundo. A herança africana no Brasil é profunda e abrangente, estruturando a identidade nacional em aspectos fundamentais da cultura, da religiosidade e da linguagem.
Três grandes grupos étnicos foram responsáveis pela organização do Candomblé no Brasil: os yorùbá, os bantu e os fon. Além da religião, esses povos inseriram palavras no nosso cotidiano, começando pelos nomes de suas divindades, como os àwọn Òrìṣà (Orixás) dos yorùbá, os Nkisis dos bantu e os Ʋòdʊ́ɲ (Voduns) dos ewé-fon. Os bantu tiveram uma contribuição marcante na formação da nossa língua. Palavras como angu, abano, banda, bunda, bazuca, caçula, capanga, candango, cachimbo, cafundó, caxumba e dendê são heranças linguísticas que permanecem vivas em nossa oralidade.
Na religião, a organização social africana foi fundamental para a criação de espaços de resistência, como os terreiros, onde as comunidades puderam preservar seus valores e tradições, mesmo diante da repressão histórica. O Candomblé tornou-se um símbolo de resistência e manutenção da ancestralidade. Apesar do racismo, do preconceito e da intolerância que ainda enfrentamos, o culto aos Orixás, Voduns e Nkisis continua conquistando seguidores, encantando-os com seus ritos, cantigas e línguas sagradas.
A culinária brasileira também carrega fortes influências africanas. Pratos como o acarajé, o vatapá, o caruru e a feijoada são exemplos da riqueza gastronômica trazida pelos africanos e que se tornaram símbolos da nossa culinária. A forma de preparo, o uso de temperos como o dendê e a pimenta malagueta, além da própria organização das refeições comunitárias, refletem essa herança.
No vestuário, os tecidos coloridos, os turbantes, os colares e o uso de elementos simbólicos demonstram a presença da moda africana no Brasil. O pano da costa, tradicionalmente usado pelas baianas, remete diretamente às tradições da África Ocidental, assim como as cores vibrantes das vestimentas associadas aos Orixás no Candomblé.
A música e a dança são outras expressões profundamente influenciadas pelas tradições africanas. O samba, o maracatu, o jongo, o coco e o afoxé têm raízes nos ritmos e nas manifestações artísticas trazidas pelos africanos escravizados. Os tambores, considerados instrumentos sagrados, continuam sendo marcantes tanto nos ritos religiosos quanto na música popular.
Diante dessa imensa contribuição, não se pode negar a importância dos povos africanos na formação do Brasil. Separar a cultura brasileira de suas raízes africanas seria ignorar a base da nossa identidade. Valorizar essa herança é reconhecer a resistência, a força e a beleza que os africanos e seus descendentes trouxeram e continuam trazendo para o país. É, acima de tudo, uma questão de justiça histórica e de respeito àqueles que, apesar de todas as adversidades, mantiveram vivas suas tradições e as transformaram em pilares da cultura brasileira.
Láàyè agbára Áfríkà! (Viva a força africana!)
Axé para todos!
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