A força da justiça de Xangô na defesa das mulheres
Foto: Xangô defende as mulheres - Pai Paulo de Oxalá
Mulheres e homens de terreiros criticam a PL do aborto
Na última quarta-feira (12), a Câmara aprovou em votação relâmpago a urgência do PL 1094/24, que equipara o aborto realizado após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples. Com isso, o texto poderá ser votado em plenário sem precisar passar por comissões temáticas.
O fato mexeu com a sociedade em todo o país, manifestantes foram às ruas na quinta (13) e sexta (14) contra o projeto de aborto que diz no texto que a pena para meninas e mulheres que realizarem aborto após 22 semanas é de seis a vinte anos de prisão; e que para os estupradores, dez anos. A repercussão também foi grande entre o povo de axé, pois essa lei afetará de forma direta as meninas e as mulheres de comunidades e periferias onde inclusive existem muitos Terreiros de religiões de matriz africana.
Nós, das religiões de matriz africana, respeitamos demais as mulheres, pois além de o Candomblé ter a base matriarcal, veneramos as nossas Yabás.
Por isso, eu, Paulo de Oxalá, acredito que Xangô, o Orixá da justiça, filho de Ìyámase, jamais deixará que injustiças recaiam sobre as mulheres. Sua poderosa força certamente defenderá a vítima de bandidos estupradores. Uma mulher que sofra violência sexual tem o direito de decidir sobre o seu corpo e sua vida. Imputar uma pena maior a ela do que ao estuprador é uma grave injustiça e desrespeito à dignidade humana. E isso vai de encontro a autoridade de Xangô.
E reforçando o imenso coro coletivo que se manifestou por todo o país contra a PL do aborto, eu ouvi o posicionamento de mulheres e homens de terreiros.
Mãe Norma de Xangô diz que se essa lei pegar será desastrosa para vida das mulheres das favelas.
“Se essa lei for aprovada, certamente afetará mais as mulheres e meninas pobres das favelas. Isso é um absurdo. Como pode um cara estuprar uma mulher, violentar uma criança e ter uma pena curta? A mulher ou a criança que saem como bandidas a ponto de receberem a pena máxima? Sou uma mulher de Xangô e acredito que nenhum estuprador sairá impune do machado de meu pai.”
Ìyá Vanessa de Oxum também acha essa PL um equívoco.
“Acho essa PL equivocada e sem sentido, pois pelo texto, a vítima vira algoz. Isso é totalmente insano. Sou de Oxum, defendo a vida e o amor, mas sou totalmente contra a violência, principalmente, contra nós, mulheres.”
Mãe Miriam Oyá se diz indignada com essa PL.
“Sou uma mulher, mãe de duas filhas, então não posso aceitar que uma maluquice dessa venha desonrar a minha vida, das minhas filhas ou de qualquer outra mulher. Estou indignada. Vejo isso como desrespeito a nós, mulheres. Confio em Xangô como nosso juiz.”
A Ègbọ́nmi Nara de Yemanjá enfatiza que esse projeto é discrepante.
“É uma agressão contra nós, mulheres. Eles não estão preocupados com a nossa saúde e dignidade. Uma menina estuprada é uma criança e, como criança, ela não pode ser responsabilizada por ter sofrido uma violência. Sou de Yemanjá, Orixá mãe de todos, então discordo totalmente dessa PL grosseira e discrepante que não ouve nem respeita a decisão das mulheres.”
O Ogan Buda de Bobosa, casado e pai de uma menina de 9 anos, ressalta que essa PL é desrespeitosa.
“Tenho uma menina de 9 anos e sou superprotetor. E essa PL não vem para proteger meninas e mulheres; e sim, para criminalizá-las. No meu entendimento, uma mulher tem o direito de decidir o que é melhor para si. Então, acho isso politicamente grave, pois no pano de fundo desse ato há grupos radicais de outras religiões, que não estão ouvindo a sociedade. Texto ridículo e desrespeitoso”.
Bàbá Vitor Friary defende que para o Candomblé o corpo é sagrado.
“Aqui, no Brasil, o Candomblé foi organizado por mulheres. Então, a nossa base de respeito são as mulheres. Elas decidem e lideram. O que eu quero dizer é: respeitamos tanto as mulheres, as nossas mães, filhas que é inadmissível qualquer violência contra uma mulher. Até porque o corpo para nós é sagrado, principalmente, o corpo de uma mulher”.
Assistam esse vídeo sobre posicionamento e fé
Ki Ṣàngó dáàbò gbogbo àwọn obìnrin! (Que Xangô proteja todas as mulheres!)
Axé!
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