Trono do Rei jeje, peças dos Orixás e documentação indígena se perdem na tragédia do Museu Nacional
Entre tantas perdas de relíquias no incêndio que destruiu o Museu Nacional, na noite do último domingo, estavam o trono do rei do antigo Dahomé (atual República do Benim), o acervo das línguas indígenas da América do Sul e peças ligadas aos Orixás.
O trono do rei Adandozan foi um presente ao príncipe regente D. João VI, em 1811. Tinha 1 metro de altura e 70 cm de largura, e datava da passagem do século XVIII ao XIX. Ele foi incorporado ao acervo do Museu Nacional em 1818 e se tornou uma de suas principais raridades, pois foi uma das primeiras peças que chegaram para o acervo, antes mesmo da criação oficial do Museu. O trono foi uma iniciativa para melhorar as relações diplomáticas entre o então Reino do Dahomé, Reino de Portugal e Brasil.
O Dahomé é a terra do povo jeje, e Adandozan que nasceu em 1718, era filho do rei Agonglo e reinou por 21 anos. Sua madrasta era a rainha Nà Agontimé que fundou aqui no Brasil a Casa das Minas, uma das casas responsáveis pela propagação da cultura jeje em nosso país.
O trono que ficava no Museu Nacional era chamado de zinkpo jandeme (assento com decoração trançada) e era uma réplica do trono do avô de Adandozan, o rei Kpengia, que morreu em 1789.
O CELIN - Centro de Documentação de Línguas Indígenas foi criado em 2004 e funcionava dentro do Museu Nacional/UFRJ. O trabalho era especializado em línguas indígenas e variedades do português do Brasil. Tinha todo um acervo composto de materiais textuais, sonoros e visuais. Eram numerosos documentos, em sua maioria relativos a dados primários e resultados de pesquisas sobre línguas indígenas da América do Sul e de diversas partes do mundo. Tudo perdido.
O incêndio no Museu Nacional foi uma perda incalculável para a cultura mundial, pois entre os 20 milhões de itens encontravam-se peças de diversas partes do mundo.
Nígbàtí kọ́ fún kìlọ̀ nã burú san padà nitorí àìsàn!
(Quando não se previne o mal, paga-se caro pela tragédia!)