A força de Àfọ̀njá e o Axé de Éden
Segundo os mitos yorubás, Àfọ̀njá foi um líder guerreiro da região de Ìlorin, na Nigéria.
Aqui no Brasil, Àfọ̀njá foi exaltado como patrono do Terreiro de Candomblé: Ilé Àṣẹ Òpó Àfọ̀njá de Salvador, na Bahia. Esse Terreiro foi fundado por Eugênia Anna dos Santos em 1910. Mãe Aninha era conhecida como Oba Biyi. Ela nasceu em 1869, foi iniciada para Ṣàngó aos 17 anos e era filha de africanos da etnia Grunci.
Em 1886, Mãe Aninha veio para o Rio de Janeiro com Rodolpho Martins de Andrade ou Bamgboṣe Òbítíkò residir na Região Portuária do Rio, onde já existiam vários Terreiros de Candomblé. Dentre esses Terreiros, o do Sr. João Alabá de Ọmọlu se destacava por reunir além de africanos e descendentes de várias etnias, também políticos e intelectuais da época.
E foi na Região Portuária, mais precisamente no bairro da Saúde, que Mãe Aninha organizou um Terreiro que seria o embrião do Àṣẹ Òpó Àfọ̀njá do Rio de Janeiro, que depois foi transferido para Coelho da Rocha, na Baixada Fluminense.
No Àṣẹ Òpó Àfọ̀njá de Salvador, Mãe Aninha iniciou muitas pessoas que tornariam–se importantes para a história do Terreiro, dentre elas Ondina Valéria Pimentel conhecida como Mãezinha de Òsàlá. Mãezinha assumiu a direção do Àṣẹ Òpó Àfọ̀njá de Salvador, no ano de 1964, tornando-se a quarta Ìyálórìṣà do Àṣẹ.
Mãe Odina também abriu um Terreiro de Candomblé, no Rio de Janeiro, no bairro do Éden, Município de São João de Meriti. Esse Terreiro recebeu o nome de Abá Ylê Cruz do Divino Axé Opô Afonjá que, devido a sua localização, ficou também conhecido como Òpó Àfọ̀njá de Éden. O Axé de Éden foi frequentado por filhos ilustres que vinham do Òpó Àfọ̀njá de Salvador à procura de Mãezinha.
Após as festas e obrigações no Axé de Salvador, Mãezinha sempre retornava ao Rio de Janeiro para realizar os festejos do Axé de Éden, e vinha acompanhada de suas irmãs e irmãos, como Tia Pinguinho, Obá Kankanfo, Tia Noêmia de Òṣàgiyán, Senhorazinha de Ọ̀ṣun, Tia Jovem, Mocinha, Regina de Ọbalúwáiyé, Honorina de Ọ̀sányìn, José Olòṣèdé, Moacir de Ògún, Aída de Oyá, Carmem de Oyá e Mestre Didi. Lembrando também do ilustre Bàbálórìṣà Balbino Daniel de Paula-Obàràyín, cujos primeiros passos como Sacerdote foram no Àfọ̀njá de Éden, com Mãezinha, com quem concluiu suas obrigações de Òrìṣà.
Muitos filhos, que hoje se encontram em Salvador, foram iniciados no Axé de Éden, onde Mãezinha dizia: “que tanto no Rio como em Salvador, a mãe era a mesma”. Dentre os muitos filhos iniciados por ela, vale lembrar da saudosa Detinha de Ṣàngó e sua filha, Eurides de Oyá.
Quando estava do Rio, Mãezinha mantinha um relacionamento fraternal com Mãe Cantú de Aira Tola, Ìyálórìṣà do Òpó Àfọ̀njá de Coelho da Rocha. Ambas foram iniciadas no Àṣẹ Òpó Àfọ̀njá de Salvador, por Mãe Aninha, portanto eram irmãs de àṣẹ.
Elas conviviam como uma grande família e conduziam seus ritos com ética. Naquele tempo não se fazia uma festa ou obrigação, em uma das duas Casas, sem que não houvesse a presença das duas por questão de respeito e ancestralidade.
Muitas festas foram realizadas por Mãezinha com a presença de muitas personalidades do Candomblé da época que frequentavam o Àfọ̀njá do Éden, como por exemplo: Davina de Ọbalúwáiyé, Aderman de Oyá, família Encarnação, os Gumbonos Jorge de Yemọjá e Djalma de Lalu e o Bàbálóríṣà Delejan de Yánsàn.
Com o falecimento de Mãezinha, o Axé de Éden passou por um longo processo de sucessão até a posse de sua sobrinha carnal, Célia Pimentel, que foi iniciada por Mãezinha para Ọ̀ṣun. Mãe Célia de Ọ̀ṣun deixou a carreira de enfermeira e dedicou-se aos ensinamentos deixados por Mãezinha para manter as tradições religiosas do Axé de Éden.
Procurando divulgar a história do Axé de Éden e perpetuar o legado de Mãezinha e dos filhos que passaram por lá, foi criada uma Fan-page no Facebook. A página tem a editoria do jornalista e também filho do axé, Mingos Lobo, da escritora Cléo Martins- Agbeni de Ṣàngó e, de Rosana Pimentel, ambas do Òpó Àfọ̀njá de Salvador.
O Axé de Éden localiza-se à Rua Nossa Senhora das Dores Andrade e Silva 346, bairro do Éden, São João de Meriti/RJ.
Fan-page:https://www.facebook.com/opoafonjaeden
Fontes: Clilton Paz e Mingos Lobo