- Paulo de Oxalá
Do seio da África ao Cais do Valongo

Neste domingo, 09 de julho, ecoou na sessão da Comissão de Patrimônio Mundial da Unesco, um grito de alegria, misto desabafo e reflexão de Nilcemar Nogueira, atual secretária de Cultura do Rio, quando o Sítio Arqueológico do Cais do Valongo ganhou o título de: ‘Patrimônio Mundial Cultural concedido pela Unesco!’
E não é para menos, pois afinal, aquele lugar foi o principal porto de entrada de escravos africanos no Brasil e representa a exploração e o sofrimento das pessoas que foram trazidas à força ao país até meados do século XIX. O título joga luz sobre um passado de escravidão que deixou como herança uma profunda desigualdade social entre brancos e negros e um racismo estrutural nem sempre reconhecido.
Comemorando, Nilcemar escreveu em seu Facebook que o título é "uma etapa essencial para o reconhecimento de uma memória que precisa ser revelada e, principalmente, reparada". "Este momento marca o início de uma nova fase em relação ao reconhecimento de uma história que, por muitas décadas, esteve nos subterrâneos do que oficialmente conhecemos do nosso país".
Em 1976, a Escola de samba Acadêmicos do Salgueiro apresentou o enredo de Edmundo Braga: ‘Valongo’. O enredo retratava a diáspora de milhões de africanos que foram retirados do seio da África, escravizados, e trazidos para construir o Brasil como Nação. Dentre as tantas etnias trazidas, o enredo ressalta os: Haussás, Jejes, Minas, Nagôs e Angolas. O samba, muito bem interpretado pela cantora Dinalva e Noel Rosa de Oliveira recomendava e avisava para a importância do Cais do Valongo como origem cultural do nosso país. Isso em 1976!
41 anos se passaram, e na 41ª sessão da Comissão de Patrimônio Mundial da Unesco, vemos o Valongo entrar para a história do Brasil, e do mundo, com tristeza pelas lembranças dos que por ali passaram, mas saudando a força e a contribuição trazidas por eles para esta terra.
Samba enredo do Salgueiro 1976
Valongo
Compositor: Djalma Sabiá
Intérpretes: Dinalva e Noel Rosa de Oliveira
Lá no seio d'África vivia
Em plena selva o fim de sua monarquia.
Terminou o guerreiro
No navio negreiro,
Lugar do seu lazer feliz.
Veio cativo povoar nosso país,
Seguiu do cais do Valongo,
No Rio de Janeiro,
Com suas tribos chegando.
Foi o chão cultivando
Sob o céu brasileiro.
Nações Haussá, Gegê e Nagô,
Negra Mina e Angola ,
Gente escrava de Sinhô.
Foram muitas suas lutas
Para integração,
Inda hoje
Desenvolveu
Desenvolvendo esta Nação,
Sua cultura, suas músicas e danças
Reúnem aqui suas lembranças.
O negro assim alcançou
A sua libertação
E seus costumes, abraçou
Nossa civilização.
Ô-ô-ô-ô, quando o tumbeiro chegou,
Ô-ô-ô-ô, o negro se libertou
Axé!