Do seio da África ao Cais do Valongo
Neste domingo, 09 de julho, ecoou na sessão da Comissão de Patrimônio Mundial da Unesco, um grito de alegria, misto desabafo e reflexão de Nilcemar Nogueira, atual secretária de Cultura do Rio, quando o Sítio Arqueológico do Cais do Valongo ganhou o título de: ‘Patrimônio Mundial Cultural concedido pela Unesco!’
E não é para menos, pois afinal, aquele lugar foi o principal porto de entrada de escravos africanos no Brasil e representa a exploração e o sofrimento das pessoas que foram trazidas à força ao país até meados do século XIX. O título joga luz sobre um passado de escravidão que deixou como herança uma profunda desigualdade social entre brancos e negros e um racismo estrutural nem sempre reconhecido.
Comemorando, Nilcemar escreveu em seu Facebook que o título é "uma etapa essencial para o reconhecimento de uma memória que precisa ser revelada e, principalmente, reparada". "Este momento marca o início de uma nova fase em relação ao reconhecimento de uma história que, por muitas décadas, esteve nos subterrâneos do que oficialmente conhecemos do nosso país".
Em 1976, a Escola de samba Acadêmicos do Salgueiro apresentou o enredo de Edmundo Braga: ‘Valongo’. O enredo retratava a diáspora de milhões de africanos que foram retirados do seio da África, escravizados, e trazidos para construir o Brasil como Nação. Dentre as tantas etnias trazidas, o enredo ressalta os: Haussás, Jejes, Minas, Nagôs e Angolas. O samba, muito bem interpretado pela cantora Dinalva e Noel Rosa de Oliveira recomendava e avisava para a importância do Cais do Valongo como origem cultural do nosso país. Isso em 1976!
41 anos se passaram, e na 41ª sessão da Comissão de Patrimônio Mundial da Unesco, vemos o Valongo entrar para a história do Brasil, e do mundo, com tristeza pelas lembranças dos que por ali passaram, mas saudando a força e a contribuição trazidas por eles para esta terra.
Samba enredo do Salgueiro 1976
Valongo
Compositor: Djalma Sabiá
Intérpretes: Dinalva e Noel Rosa de Oliveira
Lá no seio d'África vivia
Em plena selva o fim de sua monarquia.
Terminou o guerreiro
No navio negreiro,
Lugar do seu lazer feliz.
Veio cativo povoar nosso país,
Seguiu do cais do Valongo,
No Rio de Janeiro,
Com suas tribos chegando.
Foi o chão cultivando
Sob o céu brasileiro.
Nações Haussá, Gegê e Nagô,
Negra Mina e Angola ,
Gente escrava de Sinhô.
Foram muitas suas lutas
Para integração,
Inda hoje
Desenvolveu
Desenvolvendo esta Nação,
Sua cultura, suas músicas e danças
Reúnem aqui suas lembranças.
O negro assim alcançou
A sua libertação
E seus costumes, abraçou
Nossa civilização.
Ô-ô-ô-ô, quando o tumbeiro chegou,
Ô-ô-ô-ô, o negro se libertou
Axé!