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Revista Mistérios de Ọ̀rúnmìlà

Paulo de Oxalá, Um Comunicador em prol da Cultura Afro-Brasileira


Foto: Comunicador Alexandre Ferreira e Paulo de Oxalá, Rádio Globo/RJ.

Entrevista:

Mistérios de Ọ̀rúnmìlà: Como começou seu interesse em trabalhar com veículos de comunicação?

Pai Paulo: Fui iniciado no Candomblé em 1976 pela Yalorixá Thereza Fomo de Oxalá, filha do finado Zezinho da Boa Viagem, em plena ditadura militar, uma época de repressões em todos os segmentos da sociedade, inclusive o religioso, ‘tudo era proibido’, não se podia saber de nada, além do pouco que lhe era dito. Aquilo me incomodava muito, pois estava dentro de uma religião de origem estrangeira, totalmente desconhecida por mim. A vida era cara e difícil e eu não tinha condições de adquirir os poucos livros que falavam sobre Orixás. Até que em uma noite girando o botão de um radinho de pilhas, ouvi uma chamada: “Ouça a partir de agora o programa Umbanda em seu Lar, com José Beniste!”. Bom, apesar de ser do Candomblé, eu queria saber de tudo um pouco, até da Umbanda que eu tinha frequentado antes de ser iniciado no Candomblé. Para minha surpresa o programa não falava só de Umbanda, e sim, de todos os segmentos afro-religiosos. O programa ia ao ar às terças-feiras, às 23h, na Rádio Rio de Janeiro 1400 khz, AM. Foi o máximo. Aprendi muito, pois o comunicador até então desconhecido para mim, José Beniste, era bastante articulado, culto, sabia bastante. Era tudo o que eu queria. O tempo passou, o programa mudou de nome, passou a chamar-se “Programa Cultural Afro-Brasileiro”, e eu de ouvinte me tornei amigo do comunicador. Essa proximidade fez com que eu aprendesse cada vez mais, despertando a vontade de também compartilhar o conhecimento adquirido com todos.

Mistérios de Ọ̀rúnmìlà: Conte como era o programa que você participou naquela época?

Pai Paulo: Em 1994 fui convidado pelo próprio José Beniste a substituí-lo em uma emergência. O programa estava então na Rádio Solimões de Nova Iguaçu, cuja frequência era 1480 khz, AM. Essa dita emergência durou mais de um ano.

Foi um grande desafio fazer um programa daquele, pois era considerado por toda a comunidade afro-religiosa do Rio de Janeiro como um dos melhores da época.

Fazendo o programa de José Beniste aprendi muito sobre a rádio e sobre a religião entrevistando respeitáveis Babalorixás, Yalorixás e personalidades. Além das entrevistas, havia debates sobre temas culturais, apresentação de cantigas da religião e a divulgação das festividades dos terreiros.

Mistérios de Ọ̀rúnmìlà: Como surgiu a ideia de ter um programa?

Pai Paulo: No final de 1995, começou a prática das rádios comunitárias e eu fui convidado pela Yalorixá Jaciléia de Ọ̀rúnmìlà a estrear o programa chamado “Isto é Axé!”, que era veiculado na Rádio 103,5 Município FM, de Belford Roxo.

Ainda no mesmo ano, fui convidado pelo meu tio de santo, o Doté Luiz de Jàgún, a apresentar o quadro “Volante de Jàgún” em seu programa “O Despertar do Candomblé”. Era um momento em que eu percorria os terreiros cobrindo festas e fazendo entrevistas.

A partir daí, fui convidado para participar de tantos outros programas, sempre no intuito de divulgar a nossa religião.

Mistérios de Ọ̀rúnmìlà: Quais os programas de rádio que se destacavam naquela época?

Pai Paulo: Muitos Babalorixás e Yalorixás também se destacavam naquela época com programas de rádio, dentre eles: Adnaldo de Ògún, Tolamalembé, Elias de Yansã, Guilherme de Ògún, Luiz de Jàgún, Ângelo de Osányìn, Ronaldo de Oxalá, Lurdes de Yansã, Armando de Carvalho, Boscarino, Josemar de Ògún, Arlete Moita, Joaquim Motta, Ivete Brum, Bambina Bucci e Átila Nunes.

Mistérios de Ọ̀rúnmìlà: Qual foi o legado deixado daquela época para as religiões de matrizes africanas atualmente?

Pai Paulo: Os programas de rádio contribuíram para a divulgação da religião num momento muito especial, pois não havia internet e a interatividade e a participação só acontecia por telefone. Esse legado representou a abertura para o amplo conhecimento que hoje a religião desfruta.

Mistérios de Ọ̀rúnmìlà: Fale mais sobre a sua trajetória na mídia.

Pai Paulo: Em 1999 quando a internet ainda engatinhava e não existia conexão banda larga, só a discada, eu lancei através do UOL, o site sobre Candomblé e Cultura Afro, sendo de fato um dos primeiros sites desse segmento no Brasil. Isso rendeu a reportagem assinada pelo jornalista Marcos Almeida do jornal O Dia sob o título ‘Pai-de-santo.com.br’, em 27 de outubro de 2000. Devido ao grande sucesso dessa matéria, fui convidado pelo jornal O Dia a escrever no site do jornal sobre Candomblé e Cultura afro.

Em 2006, fui chamado pelo Infoglobo para escrever no jornal Expresso. Eles tinham acabado de criar esse jornal e queriam novidades. Então foi criada a Coluna Orixás, onde escrevo sob um Orixá a cada semana, com diversidades e dicas culturais. Devido ao sucesso de público a Coluna ganhou a versão digital no Extra online, onde é veiculada todas as segundas-feiras. No Extra online, além dos Orixás, outros assuntos ligados a Cultura afro também são abordados.

Também foi criado na Rádio Globo/RJ o quadro “Astral da Semana” com um grupo de especialistas exotéricos para analisarmos as energias da semana. O primeiro apresentador foi o Alexandre Ferreira, depois o programa foi apresentado por David Rangel.

Além de escrever para as mídias citadas, sou consultor da Editora Alto Astral sobre o assunto Orixás.

Mistérios de Ọ̀rúnmìlà: Quais são os seus planos para o futuro? Pensa em voltar para a rádio?

Pai Paulo: Atualmente, não penso em retornar para a rádio. Estou me dedicando ao meu novo site Paulo de Oxalá. Mas, se for da vontade de Oxalá e de todos os Orixás, estarei pronto para cumprir as suas determinações.

Mistérios de Ọ̀rúnmìlà: O senhor acha que atualmente existe problema com os veículos de comunicação para um melhor esclarecimento?

Pai Paulo:Realmente ainda temos muito a conquistar, se compararmos a outras religiões. Não temos, por exemplo, um canal de rádio próprio. A nossa mídia afro é que faz, de forma resistente, a total diferença, já que a nossa religião não tem incentivo nem patrocínios. Tudo é feito na garra e pelo amor à religião.

Mistérios de Ọ̀rúnmìlà: Tem alguma decepção daquela época?

Pai Paulo: De jeito algum. Só tenho a agradecer pelas oportunidades e de ter convivido com tantas pessoas importantes e sábias. Elas é que são verdadeiros exemplos de nossas convicções religiosas. Aprendi muito com todos. Aproveito para agradecer e tomar a benção dos meus mais velhos.

Mistérios de Ọ̀rúnmìlà: Espaço aberto para seus comentários.

Pai Paulo: Por minha experiência em mídias, vejo que houve uma grande revolução social e religiosa com a globalização ocasionada pela internet. Atualmente é impossível imaginar o cotidiano dos cultos afros sem as redes sociais. Mais do que nunca, precisamos aproveitar para mostrar quanta coisa maravilhosa a nossa religião possui.

Colaboradora: Beatriz Mello


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